UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB
CAMPUS DE JEQUIÉ
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
GRAZIELE BISPO DE SOUSA E LORENA SOUSA
OLIVEIRA
RELATÓRIO
DE ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
JEQUIÉ
– BAHIA
2019
GRAZIELE BISPO DE SOUSA E LORENA SOUSA
OLIVEIRA
RELATÓRIO
DE ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Relatório Final
de Estágio apresentado por Graziele Bispo de Sousa e Lorena Sousa Oliveira à
disciplina Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, como requisito
de avaliação da III unidade.
Orientadora:
Profª. Ma. Rosangela Alves de Oliveira Santos
JEQUIÉ – BAHIA
2019
RELATÓRIO DE
ESTÁGIO NOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Instituição de Ensino: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Curso: Pedagogia
Disciplina: Estágio nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Professor orientador: Profª Ma.
Rosangela Alves de Oliveira Santos
Graziele Bispo de Sousa
1ª Travessa Ari Barroso – nº 154 -
Jequiezinho, Jequié - Bahia
(73) 98214-9159
Lorena Sousa Oliveira
Avenida Franz Gedeon – n°
21- Jequiezinho, Jequié - Bahia
(73) 98828-6618
Professora Orientadora: Profª Ma. Rosangela Alves de Oliveira
Santos
Escola-Campo de Estágio: Escola Municipal Dr. Joel Sá - CAIC
Localização: Av. Antônio Tourinho, s/n, Jequiezinho,
Jequié-BA.
Direção: Erlon
Professora Regente: Juliane Costa Santos
Período de Estágio: 29/10 a 18/11
Ciclo: I
Turno: Vespertino
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a
todos que de forma positiva e até mesmo negativa (duvidando de nós), contribuíram
para a realização e eficácia durante o processo de estágio supervisionado.
Em especial, à
Deus, por nos sustentar em tantos momentos;
Aos funcionários
da escola e aos alunos do 2º ano B, a turma que realizamos o Estágio;
Às nossas mães
por ouvirem nossos desabafos e nos orientar nessa caminhada;
À nossa
professora supervisora de Estágio pela orientação e por tornar esse processo
leve;
Às nossas
colegas de turma de estágio, em especial, Iana e Ionara, por todo suporte e
parceria, e por último, mas não menos importante, a Múric e Samara, por todo
apoio, paciência, carinho e compreensão em todos os dias que parecíamos estar
em constante período de estresse.
RESUMO
O presente
relatório descreve e analisa as experiências vivenciadas na prática pedagógica
do Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do curso de
Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de
Jequié. O estágio foi realizado na Escola Municipal Doutor Joel Coelho Sá,
localizada no bairro Jequiezinho, no município de Jequié - BA, numa turma do 2º
ano do Ensino Fundamental. Tendo por finalidade discutir a importância da
relação teoria e prática na formação docente, destacando o exercício da
pesquisa como reflexão da práxis docente e os dilemas vivenciados durante o
projeto de intervenção desenvolvido na escola. A metodologia desenvolvida nesse
estudo foi de abordagem qualitativa do tipo colaborativa com uso dos
instrumentos da observação participante, entrevista semiestruturada,
diagnóstico de leitura e escrita das produções das crianças e elaboração de um
plano de ação para atender as necessidades de aprendizagem dos alunos.
As
discussões propostas nesse estudo foram pautadas nos referenciais teóricos de
Pimenta e Lima (2004), Martucci (2001), Pasqualini (2010) apud Carvalho (2013), Freire (1987) entre
outros. A partir do projeto de intervenção intitulado “Diversidade e respeito: convivendo com as
diferenças”, considerando que a escolha do referido tema se deu pela necessidade
de trabalhar essa temática com a turma, após as observações realizadas, além de
trabalhar a leitura e a escrita, tendo como objetivo o desenvolvimento de um
trabalho pedagógico voltado à proficiência dos alunos no processo de
sistematização da leitura e escrita. Enfatizamos que o Estágio Supervisionado
nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é uma etapa na qual o estudante de pedagogia tem a
oportunidade de relacionar-se com o referido meio, conhecendo a forma que a sua
relação com aquele ambiente toma em diferentes aspectos e em diferentes
situações, é uma situação de troca, o meio educativo apresenta ao então
estudante a sua complexidade para que com isso o conhecimento seja produzido.
Palavras chaves: Estágio e
Pesquisa. Ensino; Fundamental; Leitura e Escrita; Teoria; Prática.
|
Sumário 2. O ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES ACERCA DA PRÁXIS
14 3. CONTEXTO DA ESCOLA CAMPO DE ESTÁGIO
21 3.1 Descrição do contexto da turma do Estágio
22 4. REFLEXÕES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NO
PERÍODO DO ESTÁGIO
27 4.1 POR LORENA SOUSA OLIVEIRA
27 4.2 POR GRAZIELE BISPO DE SOUSA
34 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
38 |
APRESENTAÇÃO
O presente relatório foi
desenvolvido no curso de Pedagogia – UESB, Campus de Jequié – Ba, durante a
disciplina Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ministrada pela
professora orientadora Rosangela Alves de Oliveira Santos. Foi realizado no 2º ano
no turno vespertino, tendo como professora regente, Juliane Costa Santos na
Escola Municipal Dr. Joel Coelho Sá - CAIC. Escola Municipal Dr. Joel Coelho Sá
– CAIC, localizada na Av. Antônio Tourinho, s/n, Jequiezinho, munícipio de
Jequié, no estado da Bahia. Nossa vivência na escola teve início no dia 16 de setembro de 2019 e terminou
no dia 18 de novembro do
mesmo ano, com carga horária total de 90 horas. Esse relatório compõe a
descrição das observações e das experiências vivenciadas no período de observação,
coparticipação e regência em sala de aula.
INTRODUÇÃO
O presente relatório descreve e
analisa as experiências vivenciadas na prática pedagógica do Estágio
Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do curso de Pedagogia
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Jequié.
O estágio foi realizado na Escola Municipal Doutor Joel Coelho Sá, localizada
no bairro Jequiezinho, no município de Jequié - BA, numa turma do 2º ano do
Ensino Fundamental. Tendo por finalidade discutir a importância da relação
teoria e prática na formação docente, destacando o exercício da pesquisa como
reflexão da práxis docente e os dilemas vivenciados durante o projeto de
intervenção desenvolvido na escola.
O
estágio nos anos iniciais do ensino fundamental é um componente conhecido e
esperado por grande parte das pessoas que fazem ou pensam em fazer o curso de
pedagogia. Nesse momento a subjetividade
do campo educacional se mostrou a nós tão grande como víamos nos textos de
alguns teóricos estudados no decorrer do curso.
Com
essa situação, o que lembramos foi que não há nem sequer uma turma escolar
igual a outra, que não há nem mesmo um indivíduo igual ao outro e muito menos
provável é encontrarmos um contexto escolar e de sala de aula igual ao outro.
Essa foi a nossa primeira observação em prática no estágio nos anos iniciais do
ensino fundamental. Algo que mesmo entendendo, tendo visto e discutido bastante
no curso (teoria) não possuiríamos tanta certeza se não tivéssemos passado por
essa experiência ímpar. E essa foi só a primeira lição aprendida no estágio,
lição que foi se mostrando como um funil invertido que partindo da
subjetividade vai abrindo um leque de outras possibilidades e desafios
variados.
A metodologia desenvolvida nesse estudo foi de
abordagem qualitativa do tipo colaborativa com uso dos instrumentos da
observação participante, entrevista semiestruturada, diagnóstico de leitura e
escrita das produções das crianças e elaboração de um plano de ação para
atender as necessidades de aprendizagem dos alunos. As discussões propostas
nesse estudo foram pautadas nos referenciais teóricos de Pimenta e Lima (2004),
Martucci (2001), Pasqualini
(2010) apud Carvalho (2013), Freire (1987) entre outros. A partir do projeto de
intervenção intitulado “Diversidade
e respeito: convivendo com as diferenças”, considerando que a escolha do referido
tema se deu pela necessidade de trabalhar essa temática com a turma, após as
observações realizadas, além de trabalhar a leitura e a escrita.
O estágio
é uma etapa da formação do pedagogo que requer atenção e dedicação por parte
dos envolvidos, os estagiários passam por esse momento principalmente para
observar, influenciar e agir no meio educativo, vivenciando assim, o seu objeto
macro de estudo: a educação, daí a importância de estarmos fazendo o estágio.
Para nós, após concluir essa etapa, ficou a impressão de inconclusão, de anseio
por maiores experiências, por maior aprofundamento em diversas temáticas que
permeiam o conhecimento em educação, a escola e à docência. Com essa
experiência constatamos como maior aprendizado a mensagem para levarmos sempre
em nossa consciência quando tratarmos a respeito de educação e escola, a
certeza de que há um mundo de variações e surpresas no ambiente escolar e
educacional, o novo sempre vem, não há formação para todas as situações
encontradas na escola, muito menos nos educandos.
A
escola todos os dias se mostra complexa e repleta de necessidades e autonomias
diferentes, onde a nossa atuação deve ser estudada a priori e posteriormente
aplicada com cautela para só então a partir dos resultados obtidos revermos a
nossa ação. O estágio é uma etapa crucial em nossa formação, pois em meio aos
estudos teóricos em sala de aula temos a oportunidade de estar institucionalmente
representadas em uma turma de escola para trabalhar com o intuito de aprender,
entendemos agora que o maior objetivo do estágio é o aprendizado. Levamos
sempre na consciência que a teoria serve principalmente para o aprendizado,
então por que não dizer o mesmo sobre a práxis? Fazer para aprender.
Durante
a fase de observação, nos dirigimos a escola, fomos para conhecer o espaço e as
pessoas que o frequentam, também fomos com o intuito de já começar a
estabelecer elos de confiança com as crianças e com as professoras da sala de
aula e da escola, também pretendíamos dar início as observações que nos trariam
reflexões para também compor os aprendizados que o estágio nos traria. Também
estávamos ali para iniciarmos a nossa pesquisa, realizando entrevistas com a
docente e coordenação.
Na fase
de coparticipação, a intenção era a de auxiliar as professoras da classe nas
atividades pedagógicas e no cotidiano da escola sem deixar de fazer as
observações, porém, agora com o dever de estar coparticipando das intenções
educativas, interagindo e tornando concretos os laços de confiança.
Já na
fase da regência, que ocorreu no período de 29 de outubro a 18 de
novembro do mesmo ano, com carga horária de 135 horas, nós estivemos enquanto regentes da sala de aula, todo o
trabalho do professor, como por exemplo a construção dos planos de aula e a
aplicação de atividades e acompanhamento do aprendizado das crianças, se
tornaram nosso dever por quatro semanas.
O
estágio, assim como as outras disciplinas também de grande importância, busca
realizar a integração de conhecimentos base ao(a) graduando(a) em Pedagogia no
que tange ao estado de imersão no campo estudado e pela primeira vez no curso,
coloca ao discente o direito de estar regendo uma sala de aula, os estágios são
as únicas disciplinas que propõe essa dinâmica ao discente.
Em
outras disciplinas também há a oportunidade de estar em contato com a sala de
aula e as escolas enquanto pesquisador, mas somente nos estágios o discente
pode fazer regência. Essa imersão busca proporcionar ao estudante uma
experiência que lhe faça vivenciar enquanto estagiário um pouco do que um
professor dos anos iniciais do ensino fundamental encontra em seu ambiente de
trabalho e um pouco dos aspectos com os quais ele precisa lidar cotidianamente;
sem que haja uma linearidade, pois sempre há algo novo para se deparar no
contexto escolar.
Quando pensamos na
construção do estágio sabemos que é algo que vai para além da observação
pesquisadora, esse processo se compõe de etapas que contém, por exemplo, a
coparticipação, em que já interferimos no meio estudado auxiliando nos
processos regidos pela professora da classe, e a regência, onde construímos um
projeto de intervenção pedagógica, nesse, evidentemente necessitamos demostrar
um objetivo pedagógico a ser alcançado. O projeto de intervenção “Diversidade e
respeito: convivendo com as diferenças” surgiu a partir do que vimos na observação e constatamos na
coparticipação, detectamos uma problemática ou construímos uma ideia de
contribuição que supra uma falta ou fomente alguma melhoria nos processos
educativos e de aprendizagem na escola, assim construímos um plano dentro de um
projeto pedagógico com objetivos gerais e específicos.
E na
certeza a priori de que há essa objetividade no estágio, após vivenciarmos todo
o processo, já na construção desse relatório identificamos também a importância
de destacar a existência na subjetividade nesse processo, pois “não se pode
pensar em objetividade sem subjetividade. Não há uma sem a outra”, portanto,
estas dimensões “não podem ser dicotomizadas” (FREIRE: 1987, p. 37 apud WERRI,
p. 17). Há um laço real entre a objetividade e a subjetividade, pois mesmo
identificando nosso objetivo com a regência, ainda assim, tivemos que abrir espaço para a
subjetividade, porque nós somente tínhamos domínio sobre o que planejávamos
fazer, porém sobre o que aconteceria de fato como resposta ou reação do meio
para com nossa ação tínhamos consciência da incerteza. A subjetividade,
portanto, se fez presente, tomando evidência, em nosso processo de estágio.
Quando
se trata do estágio em um curso de licenciatura, diversas são as discussões
existentes a respeito de sua importância e muitas vezes ele surge com a
aparência de algo desafiador, como o momento em que o estudante terá
oportunidade de mostrar-se apto para o professorado, transmitindo a ideia de
que para isso não há formação suficiente, como se para que um profissional da
educação fizesse um bom trabalho ele devesse nascer com essa aptidão, assim a
plenitude no trabalho em educação surge como algo inato, como se para isso
existisse dom. Desconsidera-se assim o valor da formação docente com base em
estudos, pesquisa e prática em continuidade. Limitar o saber docente a apenas um
dom é esquecer-se de todo aprendizado teórico e prático que se adquire em
tempos de imersão na educação. A respeito do não inatismo da aptidão para o
professorado, como explica (PASQUALINI, 2010 apud CARVALHO, 2013, p.324)
Um ingressante em
licenciatura (que nunca lecionou anteriormente chega à universidade com uma
dada visão sincrética do fenômeno educação, o qual, não é possível fazer
conclusões mais aprofundadas sobre esse fenômeno social. Pela sua natureza
teórica e sistêmica a universidade põe esse aluno em contato com o conhecimento
histórico universal acumulado a respeito do fenômeno educativo. A apropriação
do conhecimento universal por parte deste aluno, sempre será uma apropriação
singular, pois “se refere às definibilidades exteriores irrepetíveis do
fenômeno em sua relação imediata, acessível à contemplação viva, ou seja,
refere-se a sua identidade
O que
levaremos a partir do estágio como conhecimento e como lição de
profissionalidade, não se refere somente ao que a escola vai nos mostrar e sim
refere-se ao conjunto de informações que a prática de estágio produzirá em
consonância com o ambiente estudado, além de fisgar as informações dadas pelo
educativo estágio, faz expelir atitudes do estagiário que se referem aos seus
aprendizados teóricos de seu curso e conhecimentos prioritários até mesmo de
sua imersão na universidade, além disso muito da identidade dos estagiários
reverbera nas reações do mesmo diante das instigações propostas pelo cotidiano
da escola. Não há imparcialidade na pesquisa e nem no pesquisador, da mesma
forma acontece com o estágio e o estagiário, ambos são parciais, contém
identidades e, portanto, respondem aos estímulos que lhes afetam de maneira que
condiz com sua autenticidade.
O
estágio em anos iniciais no ensino fundamental é uma etapa na qual o estudante
de pedagogia tem a oportunidade de relacionar-se com o referido meio,
conhecendo a forma que a sua relação com aquele ambiente toma em diferentes
aspectos e em diferentes situações, é uma situação de troca, o meio educativo
apresenta ao então estudante a sua complexidade para que com isso o
conhecimento seja produzido. Como visto em (CARVALHO, 2013)
A atividade de
conhecimento do estagiário se dá na própria relação com o real, não numa
relação unilateral aonde o discente vai até unidade escolar testar as teorias
aprendidas na universidade, mas sim numa relação dialética, de compreensão das
particularidades e contradições que envolvem o trabalho docente. (p.323)
Com
isso entendemos que nosso papel no estágio nos anos iniciais do ensino
fundamental não se resume a uma etapa de pura avaliação, mas sim de
aprendizado. Não podemos entender o que vivemos somente como um teste pelo qual
passamos, ou como uma ajuda que demos a uma escola que desejava alguns estudantes
para aplicar projetos com seus educandos. Na verdade, ali estivemos para
fomentar conhecimentos que enriquecerão a nossa formação docente. O que sabemos
é pouco se compararmos com a infinitude de aprendizados que estão
disponibilizados pela prática em educação, pela imersão em um processo de
escolarização como professor, o trabalho em educação ensina todos os dias.
Além de
tudo isso, chega a ser injusto tratar dessa maneira o ambiente educativo onde o
estágio acontece, pois assim o que dá a entender é que a escola pouco tem a
ensinar e que tudo que há para ser aprendido encontra-se na universidade, é
absurdo tentar dizer isso, pois a escola é uma das maiores representações da
produção de conhecimento em todo o mundo. Não pode ser vista então como um simples
objeto de teste, como um luar de prova, onde vamos para demonstrar nossas
habilidades, conhecimentos e aptidões para a educação. E nada recebemos dela,
nenhum estímulo? Muito pelo contrário, a escola produz para nós o que
aprenderemos no estágio e o que estudamos antes de estar em contato com ela,
situações que foram constatadas por outros estudiosos e também o que
estudaremos a partir do estágio, com tudo aquilo que dele recebemos, os
estímulos, as questões, as preocupações, as admirações, entre outras coisas.
No
tópico “Competências e habilidades específicas” do Projeto de reconhecimento e
renovação de reconhecimento do curso de Pedagogia da UESB, verificamos a
seguinte colocação:
Compreende-se à
docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional,
construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais
influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na
articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos
inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do
conhecimento no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. (p. 60)
E vimos
nessa colocação nosso pensamento representado acerca do que é a docência. Mas
para além disso esse tópico nos significou o que pensar sobre a construção de
uma formação inicial do docente, processo no qual nos encontramos no momento e
do qual o estágio é parte integrante.
2 O ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES ACERCA
DA PRÁXIS
Por ter encontrado nossa prática
no estágio refletida no texto “Estágio e docência: diferentes concepções”,
faremos uma análise desse texto discorrendo principalmente sobre os pontos que
tocaram a nossa trajetória no estágio e que por isso devem estar destacados no
presente relatório.
O texto “Estágio e docência: diferentes concepções”,
prioriza a discussão a respeito do estágio nos cursos de graduação, é um texto
que lança uma crítica principalmente ao entendimento sócio acadêmico a respeito
dos usos da teoria e da prática na formação do profissional docente. A
princípio as autoras vêm discorrer no texto sobre o lugar do estágio nos
currículos dos cursos de formação, chamando atenção primeiramente para onde o
estágio se mantém situado na maioria das vezes: no final dos cursos, assim como
está acontecendo com o nosso estágio, como se estivéssemos chegado a parte
prática da formação, posterior a toda uma teoria provinda de diferentes
disciplinas.
Trazendo os conceitos de
reflexão como principal fator de desconstrução dessa ideia, as autoras alçam
uma crítica pertinente a esse modelo de pensamento de currículo formativo, pois
para elas com base no estudo de outros autores a reflexão deve estar presente
em todos os momentos, desde ao que se entende como estudo da teoria até o se
apresenta como momento da prática.
O texto traz então o fato de a
maioria dos estudantes reclama do choque de realidade que vivenciam quando
deixam as disciplinas anteriores ao estágio e partem para as instituições
educativas como demonstrativo de como a realidade que a “prática” nos apresenta
não está sendo refletida pelas disciplinas vistas como teóricas. A prática
sofre então nesse contexto segundo as autoras o estereótipo que lhe foi
atribuído, fazendo-lhe parecer menos importante e/ou mais superficial do que a
teoria, principalmente na academia. Ao mesmo passo que tanto nas instituições
de ensino quanto em meio aos estudantes em universidades, discursos como “só se
aprende na prática” são enaltecidos, em decorrência dessa falha dos currículos
de formação que as autoras apresentaram. Nós ouvimos muito isso durante todo o
curso e por muitas vezes é algo que volta e meia estamos afirmando
quando temos contato com o chão da escola.
É discutido também no texto algo
que muito permeou nossas preocupações durante o estágio, o risco que provém do
entendimento da prática como imitação, em que a preocupação é com o fato de
produzirmos nossa atuação docente a partir do que vemos de outras professoras
sem que haja de nossa parte uma reflexão a partir das ações que observamos. Pois
a valorização das práticas e os instrumentos consagrados como tradicionais faz
com que a escola se resuma a ensinar, ao invés de buscar métodos que supram as
reais necessidades dos estudantes, independentemente de ser ou não a partir de
um modelo tradicionalmente valorizado.
Ao mesmo tempo há a preocupação com a instrumentalização técnica da
atuação do professor que traz a ideia de que a ação pode ser pensada e
constituída em rasos cursos de técnica e ser reproduzida em toda uma atuação e
vida profissional docente, as autoras fazem uma crítica que mostra a
necessidade de descontruir essa ideia e lembrar que uma atuação docente depende
principalmente da reflexão provinda da experiência, ou seja, um plano e ação
técnica devem ser refletidos a partir da situação em que ele será empregado, é
perigoso a utilização de uma mesma técnica para praticamente toda e qualquer
situação que um docente vivenciar, pois o educador está o tempo todo em sua
atividade em contato com diferentes contextos.
"Portanto, a habilidade que o professor
deve desenvolver é a de saber lançar mão adequadamente das técnicas conforme as
diversas e diferentes situações em que o ensino ocorre, o que necessariamente
implica a criação de novas técnicas” (SOCORRO; PIMENTA,2005), isso torna
o professor um profissional em constante processo de aprendizado, melhoria e
criação de técnicas que se adequem as situações encontradas, pois por muitas
vezes, pensamos estar preparados para todo tipo de acontecimento, entretanto,
no chão da escola isso muda.
Nesta situação e nesse momento na
qual a reflexão é apontada como grande importância para a atuação docente, o
que toma protagonismo como ideia conclusiva do texto é a necessidade dos
educadores se moldarem enquanto “intelectuais críticos e reflexivos”. Tomando
então a posição de um pesquisador durante todo o processo de
ensino-aprendizagem, pois a pesquisa nos mantém ativos e atualizados sobre os
contextos em que estamos inseridos, podemos com ela observar o que nos é
apresentado e pensar criticamente a partir disso para então formularmos uma ação
amparada pela reflexão.
Selma Pimenta e Maria Socorro,
2005, preocupam-se ainda em relatar a respeito das possibilidades existentes
para que os professores possam estar atuando enquanto pesquisadores, a partir
disso as políticas públicas são o principal ponto apresentado, entendendo que
há a necessidade dessa situação ser pensado por esses âmbitos sociais. O texto
é finalizado apresentando a importância de pensar uma docência
crítico-reflexiva coletivamente, pois não se faz educação individualmente. Por
fim, a teoria e a prática são discutidas sem que haja um enaltecimento de uma
em detrimento da outra. O texto aponta críticas a algo que refletimos bastante
durante a disciplina, o estágio ser reduzido as perspectivas da prática
instrumental e do criticismo e como isso expõe os problemas na formação
profissional docente. É necessário deixar explícito que o estágio é teoria e
prática e não um ou outro, pois essa dissociação empobrece as práticas nas
escolas. Essa parte também apresenta que a profissão docente é uma prática
social, capaz de intervir na realidade social, por meio da educação que ocorre
não só, mas essencialmente nas instituições de ensino.
O texto em questão contém contribuições incontáveis para os que já atuam
e aos futuros profissionais docentes e também para os iniciantes na docência e
os que se encontram em processo de estágio, regência, coparticipação e/ou até
mesmo na observação, visto que apresenta aspectos relevantes sobre a teoria e a
prática, enfatizando a não separação de ambas, pois toda prática é norteada de
uma teoria, mesmo que o sujeito não tenha consciência disso.
A pesquisa que realizamos
durante o estágio se enquadra em uma pesquisa qualitativa de tipo etnográfico
pois nela realizamos as três etapas principais de um estudo de caso
etnográfico, as quais podem ser observadas na seguinte citação
Um estudo de caso
etnográfico possui três momentos: uma etapa inicial de planejamento, uma etapa
prolongada de trabalho de campo ou de coleta de dados e uma etapa final de
sistematização e elaboração do relatório final da pesquisa”. ( MARTUCCI, 2001).
Podemos observar que todas essas
etapas estão presentes no nosso estágio, desde a fase de planejamento da
pesquisa que realizamos junto as professoras da disciplina até a coleta de dados com observação
participante, entrevistas e análise de textos escritos pelos sujeitos e a fase
final,
quando o pesquisador
sistematiza os dados e prepara o relatório, a teoria se reveste de um
importante papel no sentido de fornecer suporte às interpretações e às
abstrações que vão sendo construídas com base nos dados obtidos e em virtude
deles” ( MARTUCCI, 2001, apud ANDRÉ,
1995, p.47).
Pensar a metodologia de pesquisa
desse estágio nos faz pensar no estágio majoritariamente como pesquisa e isso é
motivador para nós enquanto estudantes da ciência da educação, saber que nós
podemos pesquisar, estudar, levantar informações e criar opções de crescimento
e melhoria educacional é um ponto de grande valor encontrado no processo de
estágio. Sair da ideia de estágio como teste ou treinamento do iniciante na
docência a partir da leitura de textos e da reflexão crítica deles para o
entendimento de estágio como pesquisa e construção de saberes é um avanço muito
significativo. E ver isso de forma nítida na nossa prática nas aulas, na
escola, nas nossas produções e agora na fase final de relatório é algo novo e
enriquecedor.
2.1 DILEMAS
Durante os dias de regência enfrentamos muitos dilemas, alguns nós já
imaginávamos, outros, nos pegaram de surpresa. Mas sabemos que eles fazem parte
do cotidiano de qualquer escola e que teremos que enfrentá-los. Segundo Yinger (1986),
a ação prática dos professores é como “um diálogo dilemático”, pois cada um
dialoga com os seus próprios dilemas e conosco não foi diferente. Ao término de
cada aula, sentávamos e dialogávamos sobre os dilemas daquela tarde e de o que
poderíamos fazer para tentar saná-los ou ao menos amenizá-los. Nós pensávamos
que se tudo fosse bem planejado, os dilemas seriam evitados e os que já existiam,
seriam resolvidos, mas não era o que acontecia. Segundo Freire (2014)
Um bom planejamento (necessário, evidentemente) não
evitará que os dilemas e a incerteza da ação concreta apareçam. Por serem
“sistemas abertos”, as aulas veem-se afetadas pelo princípio da equifinalidade, isto é, o
desenvolvimento do processo não dependerá das suas condições de início, e sim
da forma como é desenvolvido. Com inícios similares, pode-se chegar a situações
diferentes. E vice-versa, partindo-se de situações diferentes, pode-se chegar a
resultados similares. A chave está no processo e em como cada um dos momentos
de tal processo vai condicionando os seguintes (apud ZABALZA, 2003, p.10).
E de fato, os dilemas continuavam a aparecer e passaram a se transformar em
elementos importantes para solução de dificuldades e para a nossa melhoria
profissional.
2.2 GESTÃO DA CLASSE VERSUS
QUANTIDADE EXCESSIVA DE ALUNOS
EM CLASSE COM DIFERENTES DEMANDAS DE APRENDIZAGEM
O principal dilema enfrentado por nós no estágio foi,
notavelmente, a gestão da classe ou melhor dizendo: a não gestão da classe.
Isto porque tivemos muita dificuldade em lidar com o grande número de crianças
que compõem a sala. Eram 25 crianças com muita energia e, que assim como
qualquer outra criança, demonstrasse dificuldade em se comportar do jeito que o
modelo de escolarização vigente na maioria das escolas exige que eles se
comportem.
O
atual modelo de escola compulsória, o qual copiamos do resto do mundo
ocidental, foi criado ainda no início da Era Industrial. E sua função era
preparar a mão-de-obra oriunda do campo para as indústrias. Consequentemente, o
modelo de organização e agremiação das escolas era um simples espelho do modelo
organizacional das fábricas: os sinais tocando entre as aulas, indicando que
uma acabou e que outra deve começar; os sinais anunciando o início e o fim do
recreio; as filas e a ênfase na obediência e submissão; o ambiente maçante; as
fileiras de jovens sentados passivamente em suas carteiras escolares obedecendo
a seus professores; os professores obedecendo aos supervisores e ao diretor
etc. — tudo isso foi modelado de acordo com a organização das fábricas. O
problema é que já deixamos a Era Industrial há muito tempo e estamos entrando
na Era da Imaginação. Mas o modelo escolar continuou estagnado na era das fábricas. (AUGUSTO,
Flávio, 2017)
Os horários, o planejamento escolar, o
currículo, a estrutura das escolas, tudo isso solicita das crianças que elas
fiquem quietas, sentadas, fazendo somente o que lhe for ordenado por mais de
80% do tempo que elas permanecem na escola por dia. E quem acaba tendo o dever
de garantir que isso aconteça de verdade é o(a) professor(a). Não queremos
dizer aqui que as atividades propostas pelos professores não são interessantes
para os alunos e por isso eles não mantém o foco, não é isso. Até porque se
disséssemos isso estaríamos alegando que nós mesmas não fomos capazes de propor
atividades que lhes interessassem. O problema é que sabemos que crianças não
têm a mesma capacidade de foco que os adultos têm. Logo, quanto mais atrativos
em um ambiente mais difícil é para que as crianças foquem em uma coisa só. E
quanto mais crianças dentro de uma sala de aula, há mais atrativos para tirar o
foco delas.
O Brasil está em uma
campanha de ter todas as crianças dentro da escola, mas não podemos esquecer de
que elas não devem estudar em unidades sem estrutura, ou colocadas como "a
toque de caixa". Não é assim que teremos qualidade educacional: tendo
excesso de alunos em sala, dificultando a participação dos alunos, gerando
atrasos no desenvolvimento escolar. (OZÓRIO, V.A, 2003)
Sabemos que a interação das crianças umas com
as outras é mais do que importante, é necessário para desenvolver bem as suas
estruturas comunicativas, socio-interativas de relação interpessoal e até mesmo
cognitivas, mas quando há um número excessivo de crianças o trabalho do
professor acaba sendo desgastante ao extremo e são prejudicados, tanto o
trabalho do docente quanto a aprendizagem das crianças.
Comenius expressou muito
bem o sentido de ensinar nesta frase "A arte de ensinar é sublime, pois
destina-se a formar o homem, é uma ação do professor no aluno, tornando-o
diferente do que era antes." Célestin Freinet disse: "Em se tratando
apenas de instruir crianças, talvez se pudesse aceitar, em certos casos, que
elas fossem muitas."
(OZÓRIO, V.A, 2003)
E nós podemos dizer isso agora não mais somente
a partir de uma perspectiva “teórica”, mas também como algo comprovado por nós
mesmas em pesquisa durante o estágio. Pois nós tivemos grandes problemas
inclusive para sermos ouvidas pelas crianças que em grande quantidade e
agitados demais não paravam por mais de 5 minutos para nos ouvir.
Uma problemática que precisa ser mais estudada
e ter mais ações interventivas produzidas para que possamos tentar melhorar a
aprendizagem e produção de conhecimento em educação escolar é a questão da
gestão da classe. Acreditamos que não dá mais para ficarmos de mãos atadas enquanto
milhares de professores adoecem ou vivem sua prática docente de uma forma
extremamente desgostosa, inclusive utilizando de atitudes negativas em escolas
por causa da superlotação em suas salas de aula, nossa condição humana não
suporta isso de maneira saudável.
Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1998, página 21) afirmam que o processo de aprendizagem
de uma língua estrangeira é muito difícil nas escolas públicas, principalmente,
devido às classes superlotadas, posso acrescentar que isto é difícil para todas
as outras disciplinas também. (OZÓRIO, V.A, 2003)
Um limite menor de crianças por sala de aula
deveria ser estudado e adequado para as escolas públicas, acreditamos que essa
seja uma questão política/governamental. Pois, dificilmente os que estão no
poder veem a educação com a importância que ela tem, na maioria das vezes ela é
vista como um gasto e não como um investimento.
Segundo Gonçalves (2018)
Um desafio mais premente é apontado pela
mais recente pesquisa sobre Políticas Eficazes para Professores: Compreensões
do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgada na
semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). De acordo com o estudo, salas de aula lotadas, jornadas duplas de trabalho,
com carga horária excessiva e baixos salários são alguns problemas enfrentados
pela maioria dos professores no Brasil, e que colocam o País entre os piores do
mundo para a profissão entre mais de 60 analisados. A média brasileira é de 22
alunos por sala de aula, no Ceará, chega a 40.
E diminuindo o número de crianças por escola,
seria necessário construir mais escolas e gerar mais empregos, e formar mais
pessoas e adquirir mais materiais escolares e produzir mais projetos
socioeducativos, entre outras questões, tudo muito necessário a um país e seu
povo, mas tudo muito desinteressante para aqueles que querem tirar proveito do
que é público e de direito do povo.
2.3 ESTÁGIO VERSUS
SOBRECARGA ACADÊMICA
Outro grande dilema enfrentado por nós, foi a sobrecarga
da universidade, primeiro porque o estágio acontece no turno oposto ao que nos
matriculamos para o curso, nosso comprometimento com o curso deveria ser apenas
nesse turno, sendo assim, o estágio deveria acontecer no turno em que estamos
matriculados, como em outras universidades, tendo apenas o estágio como
disciplina do semestre, mas infelizmente isso não ocorre aqui. Segundo,
porque o estágio exige muito dos discentes, é preciso ter tempo e condições
para produzir com qualidade, mas nesse mesmo período temos muitas outras
disciplinas para dar conta e todos os docentes se queixam da nossa tentativa em
colocar o estágio como superior as suas disciplinas e exigem que tenhamos o
mesmo compromisso de forma igualitária e infelizmente isso não é possível.
Nossas produções e participações nas aulas não são feitas com a mesma dedicação
e qualidade que no período sem estágio e isso reflete em nossas notas e
dificuldades de compreender determinados conteúdos.
Não dá para produzir com tantas demandas e
fazer de conta que elas não estão nos consumindo, fora que as exigências são
ainda maiores porque o estágio ocorre no final dos semestres, que já é uma fase
em que muitas coisas nos são solicitadas. Sendo assim, foi um grande desafio
para nós, conseguir conciliar estágio e a enorme sobrecarga acadêmica imposta
sobre nós nesse período, é muito desgastante e injusto com os discentes que já
possuem tantas outras demandas (pessoais e/ou profissionais).
3. O CONTEXTO DA PESQUISA DESENVOLVIDA NO ESTÁGIO
A
metodologia desenvolvida nesse estudo foi de abordagem qualitativa do tipo
colaborativa com uso dos instrumentos da observação participante, entrevista
semiestruturada, diagnóstico de leitura e escrita das produções das crianças e
elaboração de um plano de ação para atender as necessidades de aprendizagem dos
alunos. O diagnóstico foi essencial para identificarmos em qual nível de
aquisição de leitura e escrita os alunos estavam, para que posteriormente,
pudéssemos realizar as atividades de acordo com o nível de cada educando.
Já a entrevista semiestruturada, foi realizada com a coordenadora
pedagógica da instituição e a professora regente da turma que realizamos o
estágio. “A entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o
qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por
outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. ” (MANZINI, 1990/1991, p.
154).
Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de
forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de
alternativas. Isso fez com que muitas outras perguntas tenham sido respondidas
sem que fossem feitas de forma direta.
Nesse período foram desenvolvidas algumas etapas necessárias para a
efetivação do estágio supervisionado. Inicialmente todas as duplas foram a
instituição para uma reunião com as professoras regentes, a coordenadora
pedagógica e a nossa professora supervisora de estágio. Foi um momento de
apresentação, pontuação de datas e de trocas de experiências.
Posteriormente, voltamos a escola para a observação da estrutura física e
a realização das entrevistas com as professoras regentes e a coordenadora
pedagógica.
Dias depois, voltamos para a realização da atividade diagnóstica de
leitura e no dia seguinte, a atividade diagnóstica de escrita. No primeiro dia
a atividade foi realizada com todos os alunos, mas no segundo, uma aluna não
estava presente, entretanto, no período de coparticipação focamos nela e
conseguimos identificar em que nível de aquisição da escrita ela se encontrava.
A próxima etapa foi voltar para a coparticipação, período em que
observamos e participamos ao mesmo tempo, ajudamos em algumas atividades e
fizemos a leitura de algumas histórias para os alunos.
E para finalizar, realizamos a última etapa, a regência. Foram quinze
dias sendo regentes de uma turma, enfrentamos muita dificuldade com a gestão da
classe, com o planejamento e com questões pessoais e profissionais, mas
conseguimos finalizar o que nos foi proposto e exigido. Nessa etapa fomos responsáveis
por todas as atividades realizadas pelas crianças, além de dinâmicas, músicas,
histórias, vídeos e a organização de uma apresentação feita no dia da
culminância.
3.1 Contexto da Escola Campo de Estágio e Descrição do
Contexto da Turma de Estágio
Diante da pesquisa que foi realizada
por nós para entender o funcionamento da escola as relações pessoais
estabelecidas e contexto educacional da mesma, nos foi possível observar os
seguintes fatos: A escola dispõe de uma
admirável interação entre alunos, professores e demais funcionários, observamos
que os mesmos dialogam sobre as mais diversas situações da escola e da vida. No
que tocante a organização, a escola prepara seus alunos para a entrada nas
salas de aula com: filas, oração e comando. O ambiente escolar é repleto de
cartazes informativos, sobre o ambiente físico e também sobre questões
educativas. Existem uma quantidade considerável de conflitos (inclusive
relacionados a violência) que ocorrem nos ônibus com os monitores (eles
conversam com a secretaria da escola sobre esses fatos para que sejam
resolvidos). Há a cultura da formatura, quadros expostos na escola com as fotos
das crianças e adolescentes formandos.
Os projetos são feitos em conjunto:
secretaria e coordenação trabalhando na produção.
Existe na escola brinquedoteca,
auditório, biblioteca, sala de secretaria e coordenação, refeitório, cozinha,
quadra, salas de aula, banheiros: feminino e masculino.
No recreio as
crianças brincam livres, na maioria das vezes correndo, os que querem tem a
opção de pegar brinquedos na brinquedoteca dizer seu nome na hora de pegar e depois
devolver.
Grande parte da família é presente na coordenação
da escola. Os funcionários têm uma boa interação entre eles. O intervalo é de
30 minutos para as crianças lancharem e brincarem, a escola disponibiliza uma
sala de brinquedos para as crianças locarem. 15:00 horas toca o sinal para o
lanche e intervalo, 15:30h toca o sinal para os alunos retornarem para as suas
salas. Após o recreio dos menores 1° e 2° anos começa o recreio dos maiores 3°,
4° e 5° anos. A escola dispõe de reforço escolar e entre outros recursos como
sala de AEE, auditório, pátio, refeitório, salas de secretaria e diretoria.
Contexto da Turma:
A turma na qual realizamos o estágio
supervisionado era composta por 25 alunos, sendo 13 meninas e 12 meninos, com
idades entre 7 e 8 anos.
Durante
o período de observação foram os seguintes pontos que observamos: No início da
tarde antes de qualquer coisa em sala de aula as crianças fazem a oração do pai
nosso. Em seguida a professora inicia uma conversa com as crianças sobre os
avisos, reclamações e orientações. Inclusive durante a observação a reclamação
mais frequente foi a respeito do mal comportamento das crianças nas aulas de
educação física. Para o recreio, a professora sempre orientou que brinquem com
os brinquedos ao invés de ficarem correndo para não se machucarem. É cultural
na turma que a Professora faça a chamada. Os alunos estão acostumados com
atividades digitadas.
3.2 Etapa da Observação Participante
Nos dias 16 e 17 de setembro de 2019, foi feita a observação participante,
na qual tivemos a oportunidade de identificar a grosso modo o comportamento da
turma, a posição da regente e da profissional responsável por auxiliar um aluno
com necessidade educacional, além de iniciar um vínculo afetivo com as crianças. E
pudemos também observar os costumes e rotina da turma e das docentes para
estarmos familiarizadas quando estivéssemos no período de regência.
3.3 Etapa das Entrevistas
A etapa das entrevistas foi uma parte
da pesquisa anterior a coparticipação e regência, necessária para adquirirmos
conhecimentos a respeito da escola em geral, porém, principalmente da vida
profissional das docentes e coordenadora pedagógica, tanto sobre suas
trajetórias na educação, quanto sobre a sua experiência com a escola na qual
realizamos nosso estágio.
No dia 17 de setembro de 2019, nos dirigimos até a escola para a
entrevista com a coordenadora e posteriormente cada dupla foi para a entrevista
com a professora regente da turma em que realizariam o processo de estágio.
Nossa dupla por exemplo, entrevistou a professora Juliane que muito
contribuiu com nossa pesquisa. Por exemplo, ao ser questionada sobre a
existência da suficiência, ou não, que sua formação tem para a mesma, ela nos
respondeu: “Sim, mas é sempre bom estar buscando o melhor para se aperfeiçoar”.
A resposta dela para nossa pergunta nos ajudou muito a entendê-la enquanto
docente estudante, pois é notório que ela vê que a formação é um processo
continuado e que não se encerra depois de um curso qualquer de nossa
trajetória. As dúvidas vão surgindo, a necessidade de aprender também e a
dúvida é uma coisa boa, sem ela ficaríamos estagnados, acreditando que de tudo
sabemos.
Nos foi possível observar também com a próxima questão da entrevista que
iremos descrever aqui, que há uma consonância entre o que vivemos no estágio e
os obstáculos que enfrentamos e o que a professora vive e enfrenta em sua
prática. Quando questionada sobre os desafios encontrados por ela em sua
docência, ela nos respondeu: “Muitos. Família (participação) e apoio, isso
afeta o desenvolvimento deles; a superlotação da sala”. A questão da não
participação da família não nos afetou tanto no estágio, pois tínhamos um curto
período de tempo para lidar com a turma, pensando nesse parâmetro familiar,
porém o fato de ela citar a superlotação nos deixou acalentadas agora após o
estágio, pois percebemos que esse não foi um problema observado somente por nós
duas e que temos base para poder falar sobre isso, foi difícil para nós lidar
com tantas crianças durante 3 semanas e sabemos que é mais difícil ainda para
os professores que têm que lidar com isso todos os dias.
E por último deixamos aqui a resposta da docente ao perguntarmos sobre as
motivações que fizeram dela uma professora: “Fiz magistério porque queria ser
professora e gosto do que faço, apesar de desvalorizada sempre quis ensinar e
gosto do que faço”, essa resposta muito nos anima, mesmo com a realidade de
desvalorização da docência em que vivemos, ainda é possível conhecermos pessoas
que gostam da educação e de ser educador(a) e isso é motivador, não para
romantizarmos as situações difamantes, mas para ganharmos força para lutarmos
pelo que acreditamos.
3.4 Etapa do Diagnóstico de Leitura e Escrita [1]
Para a realização desta etapa, nos
reunimos na UESB com as demais duplas de estágio e definimos o tema que seria
trabalhado no diagnóstico. A partir daí, em conjunto com a outra dupla que
também realizou o estágio em uma turma de 2º ano, desenvolvemos as atividades
por nível, para diagnosticarmos o nível de aquisição de leitura e escrita que
os alunos se encontravam.
No dia 25 de setembro de 2019, realizamos a atividade de leitura, pedindo
que os alunos fizessem a leitura coletiva e individual e no dia 26 de setembro,
foi feita a atividade de escrita.
3.5 Etapa da Coparticipação
A etapa da coparticipação foi
realizada nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2019, nos quais observamos, mas
também participamos de forma ativa nas aulas. Auxiliamos a regente em algumas
atividades, fizemos a leitura de algumas histórias e fomos para o intervalo
supervisionado. A etapa da coparticipação foi muito contribuinte pois ela liga
a etapa de observação à regência, partir para a regência sem ter antes essa
familiarização com o campo não seria confortável.
3.6 Regência
A regência foi a última etapa realizada, contando com o processo de
assumir a sala, reger as atividades e lidar com as demandas, além de finalizar
o estágio com a culminância, esta etapa ocorreu de 29 de outubro a 18 de
novembro de 2019. A regência como esperado pela maioria dos discentes foi a
etapa mais difícil para nós, de um modo geral, pois foi assim para todas as
duplas de nossa turma. Os motivos estão descritos nos dilemas postos nesse
relatório, dos quais foram os principais: a grande quantidade de alunos em sala
e a quantidade exagerada de demandas da universidade durante o período de
estágio. Mas ainda assim a regência foi um componente que nos trouxe grandes
aprendizados, principalmente dentro do campo da alfabetização, pela primeira
vez nos vimos pondo em ação um método de alfabetização e com isso nós
aprendemos muito e foi bastante satisfatório ver que as crianças desenvolviam
aprendizados conosco.
Ainda nos foi possível construir conhecimentos a respeito da vida em
sociedade, das diversidades, do respeito e da paz. Isso tudo foi o que marcou
nosso processo de regência.
4. REFLEXÕES SOBRE
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NO ESTÁGIO: OS CAMINHOS EXPERENCIADOS
Nesta seção iremos nos posicionar individualmente a respeito dos
principais pontos que marcaram nossas experiências durante o estágio nos anos
iniciais do ensino fundamental. Dissertando sobre nossas impressões,
aprendizados, conquistas e obstáculos.
4.1 Por LORENA SOUSA OLIVEIRA
Para começar bem do início mesmo gostaria de falar sobre as aulas de
estágio. Inicialmente foi difícil, mas depois foi passando, fomos entendendo o
perfil da disciplina, compreendendo o estágio e o que nós estávamos pensando,
fomos pesquisando o significado, o conceito e a arte da pesquisa qualitativa e
agora aqui estamos.
Na terceira semana de estágio e eu e minha dupla, já estávamos em um
misto de alívio e preocupação. Mas nada comparado a primeira semana de
regência, não que a segunda também não tenha sido difícil, mas digamos que eu
já tinha entrado no ritmo da coisa, "dançando conforme a música".
Nesse momento aqui, escrevendo
me lembro do estágio anterior, o estágio em educação infantil, que no relatório
(na parte do memorial individual) eu desabafava, a mesma queixa que penso em
deixar aqui agora. A naturalização de salas com uma grande quantidade de
crianças, dá um artigo. Pois é, percebi isso agora também e vou escrevê-lo.
Gente, é um absurdo como nós passamos tanto tempo sobrevivendo a educação nessa
situação, é contraditório tentar fazer educação desse jeito, nós funcionários
docentes e não docentes nos cansamos de uma forma totalmente longe do saudável
e as crianças/os adolescentes também.
Já tive oportunidade de conversar com
diversas professoras da educação básica que desabafaram comigo sobre como se
sentem diante dessa situação, não é fácil. Eu acredito muito que a educação só
acontece de verdade quando existe o prazer na aprendizagem e no ensino. Mas
como existir prazer nessas situações em que o tempo todo nós docentes e os
discentes também só podem pedir que o tempo passe para que possamos ir embora
da escola? Isso não pode ser naturalizado, ainda mais naturalizado. Todo
cidadão tem direito de lutar por seus direitos e nós enquanto pedagogas e
pedagogos temos o direito de lutar pela nossa profissão e pela transformação do
que está posto historicamente a ela.
Vou em busca da oportunidade de mudar
isso, porque conheço meus direitos e os direitos das crianças, elas precisam de
uma aprendizagem garantida e que seja prazerosa o que é quase impossível dentro
dessas condições de salas cheias observada nas escolas. Precisamos de mais
escolas e mais funcionários docentes e não docentes, precisamos de emprego,
espaço, vagas para estudo e trabalho. Não precisamos de cursos preparatórios de
gestão da classe sobre como sobreviver a condições precárias dentro de uma sala
de aula, como "matar até 3 leões por dia", como ensinar a qualquer
custo. Não precisamos disso.
Precisamos ter condições saudáveis para construir conhecimentos junto
aos educandos sem precisar sentir remorso ao final do expediente por não ter
tratado com gentileza a quem tanto precisa da gente por não ter escolha,
"ou é isso ou é nada". Não, nós temos escolha sim e se depender de
mim isso não fica assim. Sobreviver a vida inteira para que outros passam viver
em abundância? Não, eu quero vida em abundância para todos. "A
gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte". Eu
sempre entendi essa frase, mas nunca entendi tão bem como estou entendo agora.
Você leitores devem estar pensando,
"Meu Deus, o que foi que aconteceu no estágio dessa menina?". Nada de
diferente, esse desabafo posto acima é só uma descrição do que acontece todos
os dias nas escolas. Esse foi o principal marco do estágio até aqui. E então
vocês devem estar se perguntando e o que mantém ela ainda no estágio?
O que me mantém é o desejo das crianças pelo
aprendizado, isso é o meu combustível. Eu precisava me apegar em algo para me
manter nesse estágio não só na forma física para passar na disciplina e poder
pegar meu diploma, mas também na forma d’alma. E o que me sustentou ali foi ver
a carinha de felicidade de Riana ao ver que estava aprendendo a escrever e o
carinho dela ao achar que devia isso a mim, foi ver a expressão de Julio ao
olhar para a minha boca tentando observar o movimento que eu faria com ela para
que ele soubesse qual silaba eu estava pronunciando, foi ler as frases e
desenhos escritos pelas crianças quando pedimos que escrevessem sobre o que é
ser família.
Foi o sorriso de Gideão ao conseguir concluir uma atividade. Foi vê-los
fazendo uma coreografia sem nenhuma técnica, mas linda pela simplicidade e
verdade passada.
Pois é, aqui
estamos na terceira semana e até aqui esses fatos nos sustentaram.
A primeira semana foi de
preocupação, rouquidão, estresse, correria e surpresa, além de adaptação às
novas situações vivenciadas, como aplicar um método de alfabetização por
exemplo. Mas também teve risos e trocas de afetos.
Na segunda semana já observamos
mudanças na aprendizagem das crianças, mesmo que com as mesmas condições de
gestão da classe, mesmo com bronca o tempo todo. A segunda semana até agora foi
a que mais gostei, foi durante ela que entendi o motivo de estar ali, eu
precisava sentir que o meu trabalho produzia bons frutos na vida daquelas
crianças.
Hoje é terça, segundo dia da terceira e última semana e ontem a
"turbulência" foi a mesma das outras semanas, essa questão não mudou,
por mais que tenhamos tentado e a resposta está no que expus mais acima, a
solução não é o esforço do professor, mas sim a mudança nas condições precárias
da educação escolar brasileira. Mas ontem também vimos que muitos deles
evoluíram no aprendizado, estamos felizes por isso e também porque falta pouco
para acabar, sendo sincera. Porque nos tempos em que vivemos não
cabe fazer cerimônia ou enfeitar as situações. Como diz a professora
Nandyara: "ultimamente estou assim, na base do sincericídio".
Segue
um print de uma postagem minha no Instagram sobre o processo de estágio :
Retorno agora, na madrugada de Quarta-feira, 13 de novembro. Ao som do choro da minha cadela que sofre de
Leishmaniose. Para diminuir o meu foco no choro dela venho aqui escrever sobre
o estágio. A madrugada é silenciosa e infelizmente nos deixa ter foco total em
coisas que fazem barulho, como o sofrimento sem saída de Lua agora.
Sabe, caro leitor, acredito que isso
também deveria se aplicar a outras questões/ outros momentos da vida de uma
forma boa, como no estágio por exemplo, a vida deveria parar em relação as
outras coisas que temos para fazer, para viver, para chorar, para dar atenção,
e etc, quando estivéssemos em uma fase que pedisse tanto de nós como no estágio
do nosso curso de graduação.
Mas
ela não para, não podemos nos dedicar exclusivamente ao estágio, temos que nos
virar para resolver o todo, a todo momento, menos na madrugada, na madrugada,
na maioria das vezes se você tiver um problema, ele fará mais barulho até mesmo
do que o seu cansaço e assim se torna exclusivo. Mas eu sei que vai passar, nada é para sempre, nem as dores, até a vida
é um estágio, não é mesmo? E
mesmo que por vezes dolorosa, eu desejo que ela seja longa, para que possamos
aproveitar as partes boas e aprender com as ruins, já que elas são inevitáveis.
Tem
sido assim na vida e no estágio também, o tempo todo na regência estamos
vivendo momentos bons e ruins, talvez o dobro de ruins, mas é isso.
A terça feira foi forte, viu? As vinte
e uma crianças de hoje pegaram pesado com a gente, para não dizer que eles não
pararam para nos ouvir coletivamente, nos ouviram duas vezes, por um minuto em
cada vez.
Mas eu tenho orgulho de nós, porque somos
guerreiras, cheguei em casa com dor de cabeça, mas nós dissemos tudo o que
tínhamos para dizer, tentamos passar tudo o que tínhamos a passar, aprendemos
tudo o que tínhamos para aprender e voltaremos hoje, nessa quarta-feira, para
continuar. Falta pouco, graças a Deus!
Eu já iria concluir, mas outra questão
falou alto na minha cabeça, já ouvi de mim mesma e de outras pessoas, inclusive
hoje da cuidadora de um educando da sala que sala de aula não é para mim. Eu
não sei o que pensar quanto a isso, as vezes me acho incompetente para estar em
sala de aula com crianças, as vezes me acho desesperada e infantil, sem
controle da turma, mas sinceramente, não acho que o problema disso tudo esteja em
mim, acredito que o problema seja o cenário que expus lá no início desse
diário.
Aqui para nós, leitor, esse é o melhor
relatório que já escrevi, o mais sincero, o mais real, não precisei
"encher linguiça" e nem enfeitá-lo com palavras desvinculadas da realidade,
estou simplesmente relatando de verdade.
Acho que ainda não disse a vocês que
também estou muito orgulhosa de mim por ter escrito vários textos (muito bons,
modéstia à parte) para esse estágio e as crianças gostaram, tanto que custaram
a acreditar que eram meus. Toda vez que perguntava de quem eles achavam que
era, eles respondiam: "Ruth Rocha" ou nomes do tipo e aí eu lhes
corrigia dizendo que eu era a autora e a carinha de surpresa e admiração deles
me deixava flutuando, uma coisa linda.
Bom, vou deixar um dos textos aqui. Segue:
O
que é ser família?
Como
se faz uma família? Será que dá para fabricar?
Uma
família bem grande ou bem pequena, será que eu posso montar? A minha própria
família, será que eu posso imaginar? Uma família que seja perfeita para mim
como as árvores são para o ar, ou como as ondas são para o mar, ou como o ímpar
é para o par? Será que eu posso consertar qualquer errinho, qualquer ofensa,
qualquer problema, qualquer dilema, na minha família de nascença?
Tem
pessoas que nascem em sua família correta, tem pessoas que vão para um lar que
o outro entrega, para ser o seu lugar e ter alguém para cuidar.
Uma
família não se escolhe, é verdade, posso falar, família se encontra sem saber
em qual lugar, esse encontro acontece em alguma fase da vida, pode ser criança
ou pode ser adulto, acredite, é possível que pessoa não tenha encontrado ainda.
Porque
família é proteção, amor, carinho e compaixão, pode ser uma pessoa, duas, três
ou mais de mil, pode ser um amigo, a vovó, o vovô ou o titio, pode ser a titia,
a amiga, ou a mamãe, pode ser o seu gatinho, o cachorrinho ou irmãozinho, pode
ser tudo isso junto, em um lar pequenininho e pode ser uma família
com duas mamães ou dois painhos.
Pode
estar um pouco longe ou do lado, bem pertinho.
Nossa
família é quem faz nosso coração ficar quentinho.
Família
não é quem maltrata e nem quem quer nos machucar
Agora
que entendemos um conselho eu vou te dar:
Imagina
ser família de alguém que precisar, para isso basta somente você amar,
respeitar e cuidar das pessoas que também precisam ter um lar.
Espero
que tenham gostado, minha cachorra está mais calma, vou tentar dormir um pouco,
volto logo mais. E eu disse que voltava logo, hoje já é sábado e foi agora que
voltei, não tive condições emocionais de vir escrever aqui na quarta e nem
tempo na quinta, na sexta eu descansei. Então vamos lá, no diário das fontes
pré-profissionais eu expus um pouco sobre minha relação com a negritude e os
problemas de racismo aos quais estamos expostos. Não tem sido fácil, esse ano e especialmente nos últimos meses, ouvi
muita coisa triste e racista as vezes ditas para mim, de mim, do outro ou para
o outro. Mas essa quarta-feira no estágio me magoou demais.
Resolvi, quando escrevi
meu plano de aula dessa semana, trabalhar a história do povo afro-brasileiro,
os processos vividos de escravidão e violência de diversos tipos, a vida real
(no sentido de realeza que meu povo de África tinha antes de ser trazido para o
Brasil a força) e o racismo, entre outras coisas. Imaginei uma aula massa, mas
minhas expectativas nem de longe foram sustentadas, as vezes sou muito
inocente. Eu sei da realidade, mas dificilmente eu espero encontrá-la. Levei um cordel sobre a Princesa Aqualtune e
sua família Real que foi escravizada no Brasil, foi infinitamente abusada pela
escravidão, liderou e fortaleceu o quilombo de Palmares, foi a avó de Zumbi e
mãe de Ganga Zumba, guerreira e entre outras grandes questões.
Levei tudo isso de modo
adaptado a idade e linguagem das crianças com ajuda da leitura do cordel que
transformei em contação de história.
Mas todo preparo ainda é pouco diante
das marcas do racismo na sociedade. Enquanto eu mostrava para eles as primeiras imagens dos personagens
negros na história, as crianças reagiam com palavras exatamente assim: "an
an an que feio", "esses pretos são feios viu, Pró?", "Deus
é maais", "que feiaa"... Entre outras duras palavras, na minha
cabeça um turbilhão de pensamentos: "O que será que está passando na
cabeça das outras profissionais presentes na sala? Tenho medo de que não
entendam a situação que estou passando agora".
"Meu Deus eu preciso
desconstruir esses pensamentos dessas crianças". "Eu não acredito que
eles estão dizendo essas coisas".
"Quero sair daqui
chorando, mas tenho que concluir a contação da história".
Foi desesperador ! Mas por mais
incrível que pareça eu consegui concluir fingindo plenitude, só fingindo mesmo
porque eu estava arrasada, cada palavra daquela que saia da boca das crianças
era como se estivessem me batendo forte. Não vou diminuir as palavras aqui para
ser mais confortável para o leitor até porque racismo nunca será confortável
para quem sofre com ele. Mas sabem de uma coisa?
Que bom que pude ver mais
uma vez o quanto é forte o processo de racismo, é triste, mas assim eu nunca
vou esquecer e nunca vou deixar de lutar contra ele e minha principal arma será
a educação SIM. Sabendo que vou incomodar inúmeros educadores, mas eu estou
aqui para isso, meu povo nasceu para isso, para incomodar!
E não pensem que eu parei na contação,
tinha preparado o conto de uma reportagem real de um caso de racismo sofrido
por uma criança. Depois de eu ter conversado com eles sobre as falas tristes
que ouvi, a situação ficou menos difícil, eles repensaram algumas coisas. E aí
quando eu falei sobre a reportagem eles se mostraram comovidos e discutiram
comigo sobre as boas e ruins atitudes observadas no caso.
Na quinta eu levei 3 vídeos para eles
assistirem e com muita dificuldade eles ficaram quietos para assistir, foi
preciso muita bronca para isso. Um vídeo foi sobre inclusão, um episódio de um
desenho animado "Milly e Molly" com uma personagem cega (criança) o
outro foi a contação de história sobre as bonecas Abayomi, bonecas feitas de nó
em tecidos pelas mães negras escravizadas para que suas filhas conseguissem
sobreviver a tristeza de navio negreiro (a linguagem da história é bem mais
leve).
O outro vídeo foi da história
"Menina bonita do laço de fita" que alguns já conheciam. Os
resultados adquiridos com os vídeos também foram positivos.
Além de trabalhar essas
temáticas, na quarta e na quinta, ensaiamos bastante para a culminância do
estágio, que será segunda- feira.
Outras grandes dores de cabeça foram
as que adquirimos durante os ensaios, vontade de simplesmente ir embora da escola,
as crianças estavam literalmente fazendo "pouco caso" de nós, nossa
voz já não bastava. Mas ensaiamos, já vi que esse diário está cheio de
"mas" e com isso eu me lembro de uma frase que a minha amada tem
repetido muitas vezes ultimamente para mim, "o corpo cansado resiste"
porque ele não pode parar. Não acuso somente o estágio pela crise que tive na
quarta e na quinta-feira, a minha existência é permeada por muitas outras
questões. Mas aqui estou, não sei se firme, mas com certeza resistente. O
estágio está acabando só falta mais um dia e fim. Que bom que aprendi.
4.2 Por GRAZIELE BISPO DE SOUSA
(Foto tirada durante o
período de coparticipação)
A foto acima é uma das que mais
gosto das que foram tiradas durante o processo de estágio, nela me encontro
lendo uma história para os alunos e a leitura é algo que gosto muito, meu
refúgio por muitos anos e sei o quanto ela pode melhorar e transformar quem lê.
A experiência que vivenciei
durante esse estágio supervisionado foi muito além do esperado. Eu sou uma
pessoa que cria muitas expectativas sobre toda e qualquer situação, e com esse
estágio não foi diferente. Além das expectativas, tive muito medo, medo de não
conseguir dar conta de tudo que o estágio exige de nós e de acabar me
frustrando comigo mesma, em decorrência dos obstáculos enfrentados durante esse
período.
Se fosse pra resumir o estágio em
uma frase, eu diria: "Nem tudo são flores!”
Uma frase super clichê, mas que descreve
perfeitamente o que penso nesse momento após concluir o meu processo de
regência nos anos iniciais do ensino fundamental. Se eu tivesse que descrever
esse processo em uma palavra, seria batalha. Na qual eu venci em alguns dias, mas
fui vencida em outros e as sensações vividas foram o que tornaram esses dias
tão intensos e necessários para a minha formação acadêmica. O estágio é
desgastante física, emocional, psicológica e financeiramente, exige do
estagiário em todos os sentidos, mas o que seria de nós sem essa oportunidade
da prática?
Foi nessa situação que me deparei
com a vontade de desistir, o sentimento de impotência, os questionamentos sobre
o curso e a nossa prática, mas foi aonde eu me descobri mais forte e
persistente, capaz de driblar as circunstâncias e conseguir colocar o meu
planejamento em prática. Descobri que planejamento é sinônimo de flexibilidade
e que a educação é o caminho, um caminho árduo, denso, com muitas dificuldades
no percurso, mas que na linha de chegada, os frutos colhidos são saudáveis, o
reflexo de todo um processo é visto e tudo passa a valer a pena. E é com esse
pensamento, não de mudar o mundo, mas de mudar a mim mesma e ao meu aluno que
pretendo seguir na educação, seguir firme e acreditando no poder transformador
que podemos plantar um no outro.
Foi indescritível ver o
desenvolvimento de muitos alunos e perceber que contribuí para que isso
acontecesse, isso faz todo esforço valer a pena, cada estresse, noites mal
dormidas, cansaço físico, gastos financeiros... se tornam degraus necessários
para esse incrível resultado.
Foi muito bom descobrir que mesmo
com tantas dificuldades e demandas para dar conta, eu arranjava forças para conseguir
colocar em prática o que havia planejado. Com toda a certeza afirmo que esse
estágio foi fundamental para ir me moldando no âmbito pessoal e profissional,
fui testada por mim, pelas demandas, pelos alunos, pela regente, pela
professora supervisora e pela minha dupla, mas com muita dedicação e em alguns
dias valendo por duas ou três, consegui obter êxito nesse processo tão
complexo, mas necessário na vida de um graduando.
(FOTO TIRADA NO DIA DA CULMINÂNCIA: TURMA DO 2º ANO)
(FOTO 1: COM A REGENTE DA TURMA) (FOTO 2: COM A REGENTE E A PROFESSORA
SUPERVISORA DE ESTÁGIO)
(FOTO TIRADA COM A
PROFISSIONAL ESPECIALIZADA NO SUPORTE DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio em anos iniciais do ensino fundamental compôs uma das fases
mais difíceis de nossa graduação, estarmos inseridas em sala de aula pela
primeira vez como regentes de ensino fundamental já no penúltimo semestre do
curso nos deixou apreensivas e foi difícil concluirmos. O estágio foi
exaustivo, a turma em que estagiamos era composta por crianças que não se
deixaram enquadrar ao que pede o modelo de escolarização vigente: quietude,
atenção constante aos professores, contenção de suas energias e entre outras
coisas e não as culpamos por isso. Além disso a carga horária e sobrecarga de
atividades da universidade durante o próprio período de estágio foi outro
grande dilema para que enfrentássemos. O que nos acalentava durante o processo
de estágio era saber que nosso esforço físico e psicológico excessivo estava
tendo resultados: a aprendizagem das crianças.
Durante esse estágio observamos que educar com alegria e prazer dentro do
sistema de ensino e sociedade vigente, é como nadar contra a maré. Mas temos
orgulho em fazer parte dessa luta, pelo povo, pelas crianças e pelo futuro da
humanidade. Foi muito importante também o processo de criação do projeto, dos
planos de aula e das atividades que utilizamos, acreditamos que tudo seja muito
importante para nossa constituição enquanto docentes e sabemos que iremos levar
cada experiência e aprendizado desse processo para a nossa vida e trajetória na
educação.