sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Representações do povo negro em Sítio do pica pau amarelo

                                    Representações do povo negro em Sítio do pica pau amarelo

 Para começar esse trabalho, pensei em relatar aqui aquilo que vivi, talvez por existir em mim o impulso para iniciar essa pesquisa, melhor dizendo o que me impulsa a fazer estudos e escrever sobre racimo, sua reprodução e consequência na vida dos negros e negras, desde sua infância. É necessário que eu fale, que inicie esse trabalho com a minha fala, sobre o que eu pensava quando criança, pois devo fazer uma análise disso relacionada ao que eu via, o que eu assistia, aquilo que eu escutava quando criança.

E eu entendo hoje a mim mesma, já passei por uma etapa em que eu mesma muito me julgava por reproduzir em mim, estereótipos racistas que havia interiorizado, estereótipos que desenhavam uma falsa condição de ser inferior ao outro, aos não negros. É diante disso que ponho a escrever sobre a construção do racismo nas representações sócias infantis, como estudante de pedagogia tenho a ânsia de contribui para que educação infantil e fundamental passe a ter o pensamento e modo antirracista de construir educação.

Temos conhecimento de que a lei nº 10.639 rege no Brasil o ensino de História e cultura afro-brasileira, essa lei além de orientar os educadores a respeito da importância de se trabalhar nas escolas o respeito a cultura afro brasileira, orienta-nos a trabalhar com a história afro-brasileira das raízes africanas, isso deve vir a ser trabalhado desde a formação docente e também na prática docente, pensado o currículo e o colocando a ser um currículo de educação antirracista. A educação, pela situação racista em que se encontra a sociedade atualmente, deve ser mais do que uma educação livre de racismo, ela deve ser uma educação que luta contra todas as formas de racismo, contra as formas de silenciamento e exclusão. Nas palavras de Angela Davis “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista".

Há uma ideia que muito me chamou a atenção numa leitura do texto: Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos de Nilma Lino Gomes,

Nesse contexto, a discriminação racial se faz presente como fator de seletividade na instituição escolar e o silêncio é um dos rituais pedagógicos por meio do qual ela se expressa. Não se pode confundir esse silêncio com o desconhecimento sobre o assunto ou a sua invisibilidade. É preciso colocá-lo no contexto do racismo ambíguo brasileiro e do mito da democracia racial e sua expressão na realidade social e escolar. O silêncio diz de algo que se sabe, mas não se quer falar ou é impedido de falar. No que se refere à questão racial, há que se perguntar: por que não se fala? Em que paradigmas curriculares a escola brasileira se pauta a ponto de “não poder falar” sobre a questão racial? E quando se fala? O que, como e quando se fala? O que se omite ao falar?

Sobre o silencio, esse silencio é tão presente no cotidiano escolar em relação à discriminação racial que chega a ser preocupante, as questões colocadas pela Nilma ao final dessa consideração são questões que norteiam acusações necessárias a esse silencio, um silencio que reproduz e mantém um cotidiano racista na escola. Que camufla e disfarça o tempo inteiro essa reprodução, há um medo escondido nesse silencio, o medo da exposição da discriminação racial existente.

Em minha memória estiveram presentes na minha educação básica a contação da história da escravidão negra no Brasil, o sofrimento dos escravos, as surras, o navio negreiro e a abolição, essa trazia como salvadora dos negros a princesa Isabel, aquela que segundo eles libertou o povo preto por ser boazinha, também me recordo da ouvir/ler a menina bonita do laço de fita, ouvir conversações da professora em sala de aula sobre a diversidade racial e como era bonita a cor do índio. Sobre guerreiros negros afro-brasileiros eu apenas me recordo de ouvir no dia do desfile da independência, onde meninos negros eram escolhidos para representar zumbi dos palmares e as meninas Dandara, vestidos de roupas rasgadas e marcas da escravidão, ao lado da bem vestida e arrumada, Princesa Isabel, representada por uma menina branca. Era o que a escola em que estudei fazia para cumprir mandava a lei 10.639 que já havia sido sancionada.

E ao se tratar da literatura Brasileira lembro-me muito bem, também das histórias e da valorização do Sítio do pica pau amarelo como literatura infantil em sua importância.

Já havia em mim um apresso enorme pela história do sítio do pica pau amarelo, pois eu assistia a 2° versão transmitida pelo globo em 2006, quando na escola começaram a trabalhar com o sítio, eu amava toda aquela história. O modelo de vida do sítio do pica pau me encantava, meu sonho por um tempo foi viver naquele local, eu enquanto criança nada de errado via naquela história, naquele contexto e só hoje, já numa graduação foi que tive a criticidade de perceber a reprodução e manutenção de estereótipos racistas presentes no sítio do pica-pau amarelo, a naturalização do luar dos negros na série. Eu via tudo como natural, pois aos meus olhos nunca tinha passado negros em posições distantes daquelas tudo o que eu assistia reproduzia aquilo.

Representação social dos personagens negros do sítio do pica pau

Tia Anastácia

Tia Anastácia é uma personagem negra, que passa quase todo o tempo de sua vida na cozinha da casa de Dona Benta sua “Sinhá”, como assim a chama, tia Anastácia é uma empregada, que mora no sítio, mora onde trabalha, ao que tudo indica trabalha lá para viver lá. E aparece em toda trama como alguém que nos ditos populares “é quase da família”.

Na história do sítio, escrita por monteiro Lobato Tia Anastácia é descrita como “ Negra de estimação” o nível de perjoração presente nessa colocação chega a ser indescritível , como se o ser negra fosse distanciado do ser pessoa ela era uma negra de estimação, e o termo de estimação cremos que retrate o apresso que ela conseguiu dos sinhozinhos.


GOMES, Nilma Lino. Relações étnico raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan/Abr 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss1articles/gomes.pdf Acesso em: 30/05/2018 

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