sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Relatório de estágio (parte)

 

 

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB

CAMPUS DE JEQUIÉ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL

COLEGIADO DE PEDAGOGIA

 

 

 

 

 

 

GRAZIELE BISPO DE SOUSA E LORENA SOUSA OLIVEIRA

 

 

 

 

 

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                      

 

 

 

 

 

                                            JEQUIÉ – BAHIA

                                                         2019

 

 

 

 

GRAZIELE BISPO DE SOUSA E LORENA SOUSA OLIVEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

 

 

Relatório Final de Estágio apresentado por Graziele Bispo de Sousa e Lorena Sousa Oliveira à disciplina Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental  do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, como requisito  de avaliação da III unidade.

 

Orientadora: Profª. Ma. Rosangela Alves de Oliveira Santos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                     JEQUIÉ – BAHIA

2019

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

 

 

 

Instituição de Ensino: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Curso: Pedagogia

Disciplina: Estágio nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Professor orientador: Profª Ma. Rosangela Alves de Oliveira Santos

 

 

Graziele Bispo de Sousa

1ª Travessa Ari Barroso – nº 154 - Jequiezinho, Jequié - Bahia

   (73) 98214-9159

grazielesousa1@gmail.com

 

 

Lorena Sousa Oliveira

 Avenida Franz Gedeon – n° 21- Jequiezinho, Jequié - Bahia

  (73) 98828-6618

 loresouza167@gmail.com

 

 

Professora Orientadora: Profª Ma. Rosangela Alves de Oliveira Santos

Escola-Campo de Estágio: Escola Municipal Dr. Joel Sá - CAIC

Localização: Av. Antônio Tourinho, s/n, Jequiezinho, Jequié-BA. 

Direção: Erlon

Professora Regente: Juliane Costa Santos

Período de Estágio: 29/10 a 18/11

Ciclo: I

Turno: Vespertino

 

 

                                   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Agradecemos a todos que de forma positiva e até mesmo negativa (duvidando de nós), contribuíram para a realização e eficácia durante o processo de estágio supervisionado.

 

Em especial, à Deus, por nos sustentar em tantos momentos;

 

Aos funcionários da escola e aos alunos do 2º ano B, a turma que realizamos o Estágio;

 

Às nossas mães por ouvirem nossos desabafos e nos orientar nessa caminhada;

 

À nossa professora supervisora de Estágio pela orientação e por tornar esse processo leve;

 

Às nossas colegas de turma de estágio, em especial, Iana e Ionara, por todo suporte e parceria, e por último, mas não menos importante, a Múric e Samara, por todo apoio, paciência, carinho e compreensão em todos os dias que parecíamos estar em constante período de estresse.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

 

O presente relatório descreve e analisa as experiências vivenciadas na prática pedagógica do Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Jequié. O estágio foi realizado na Escola Municipal Doutor Joel Coelho Sá, localizada no bairro Jequiezinho, no município de Jequié - BA, numa turma do 2º ano do Ensino Fundamental. Tendo por finalidade discutir a importância da relação teoria e prática na formação docente, destacando o exercício da pesquisa como reflexão da práxis docente e os dilemas vivenciados durante o projeto de intervenção desenvolvido na escola. A metodologia desenvolvida nesse estudo foi de abordagem qualitativa do tipo colaborativa com uso dos instrumentos da observação participante, entrevista semiestruturada, diagnóstico de leitura e escrita das produções das crianças e elaboração de um plano de ação para atender as necessidades de aprendizagem dos alunos.

As discussões propostas nesse estudo foram pautadas nos referenciais teóricos de Pimenta e Lima (2004), Martucci (2001), Pasqualini (2010) apud Carvalho (2013), Freire (1987) entre outros. A partir do projeto de intervenção intitulado “Diversidade e respeito: convivendo com as diferenças”, considerando que a escolha do referido tema se deu pela necessidade de trabalhar essa temática com a turma, após as observações realizadas, além de trabalhar a leitura e a escrita, tendo como objetivo o desenvolvimento de um trabalho pedagógico voltado à proficiência dos alunos no processo de sistematização da leitura e escrita. Enfatizamos que o Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é uma etapa na qual o estudante de pedagogia tem a oportunidade de relacionar-se com o referido meio, conhecendo a forma que a sua relação com aquele ambiente toma em diferentes aspectos e em diferentes situações, é uma situação de troca, o meio educativo apresenta ao então estudante a sua complexidade para que com isso o conhecimento seja produzido.

 

Palavras chaves: Estágio e Pesquisa. Ensino; Fundamental; Leitura e Escrita; Teoria; Prática.

 

 

 

 

Sumário

1. INTRODUÇÃO                                                                                                    8

 

2. O ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:

 REFLEXÕES ACERCA DA PRÁXIS                                                                                                      14

 

2.1 DILEMAS                                                                                                                  17

3. CONTEXTO DA ESCOLA CAMPO DE ESTÁGIO                                              21

3.1 Descrição do contexto da turma do Estágio                                                   22

4. REFLEXÕES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NO PERÍODO DO ESTÁGIO                                                                                                           27

4.1 POR LORENA SOUSA OLIVEIRA                                                                       27

4.2 POR GRAZIELE BISPO DE SOUSA                                                           34

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                                             37

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                                              38

7. APÊNDICES                                                                                                  39

7.1 PROJETO DE INTERVENÇÃO                                                                     39

7.2 PLANOS DE AULA                                                                                           67

8. ANEXOS                                                                                                           111

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

APRESENTAÇÃO

 

 

           O presente relatório foi desenvolvido no curso de Pedagogia – UESB, Campus de Jequié – Ba, durante a disciplina Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ministrada pela professora orientadora Rosangela Alves de Oliveira Santos. Foi realizado no 2º ano no turno vespertino, tendo como professora regente, Juliane Costa Santos na Escola Municipal Dr. Joel Coelho Sá - CAIC. Escola Municipal Dr. Joel Coelho Sá – CAIC, localizada na Av. Antônio Tourinho, s/n, Jequiezinho, munícipio de Jequié, no estado da Bahia. Nossa vivência na escola teve início no dia 16 de setembro de 2019 e terminou no dia 18 de novembro do mesmo ano, com carga horária total de 90 horas. Esse relatório compõe a descrição das observações e das experiências vivenciadas no período de observação, coparticipação e regência em sala de aula.


INTRODUÇÃO

 

 

          O presente relatório descreve e analisa as experiências vivenciadas na prática pedagógica do Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Jequié. O estágio foi realizado na Escola Municipal Doutor Joel Coelho Sá, localizada no bairro Jequiezinho, no município de Jequié - BA, numa turma do 2º ano do Ensino Fundamental. Tendo por finalidade discutir a importância da relação teoria e prática na formação docente, destacando o exercício da pesquisa como reflexão da práxis docente e os dilemas vivenciados durante o projeto de intervenção desenvolvido na escola.

O estágio nos anos iniciais do ensino fundamental é um componente conhecido e esperado por grande parte das pessoas que fazem ou pensam em fazer o curso de pedagogia.  Nesse momento a subjetividade do campo educacional se mostrou a nós tão grande como víamos nos textos de alguns teóricos estudados no decorrer do curso.

Com essa situação, o que lembramos foi que não há nem sequer uma turma escolar igual a outra, que não há nem mesmo um indivíduo igual ao outro e muito menos provável é encontrarmos um contexto escolar e de sala de aula igual ao outro. Essa foi a nossa primeira observação em prática no estágio nos anos iniciais do ensino fundamental. Algo que mesmo entendendo, tendo visto e discutido bastante no curso (teoria) não possuiríamos tanta certeza se não tivéssemos passado por essa experiência ímpar. E essa foi só a primeira lição aprendida no estágio, lição que foi se mostrando como um funil invertido que partindo da subjetividade vai abrindo um leque de outras possibilidades e desafios variados.

A metodologia desenvolvida nesse estudo foi de abordagem qualitativa do tipo colaborativa com uso dos instrumentos da observação participante, entrevista semiestruturada, diagnóstico de leitura e escrita das produções das crianças e elaboração de um plano de ação para atender as necessidades de aprendizagem dos alunos. As discussões propostas nesse estudo foram pautadas nos referenciais teóricos de Pimenta e Lima (2004), Martucci (2001), Pasqualini (2010) apud Carvalho (2013), Freire (1987) entre outros. A partir do projeto de intervenção intitulado “Diversidade e respeito: convivendo com as diferenças”, considerando que a escolha do referido tema se deu pela necessidade de trabalhar essa temática com a turma, após as observações realizadas, além de trabalhar a leitura e a escrita.

O estágio é uma etapa da formação do pedagogo que requer atenção e dedicação por parte dos envolvidos, os estagiários passam por esse momento principalmente para observar, influenciar e agir no meio educativo, vivenciando assim, o seu objeto macro de estudo: a educação, daí a importância de estarmos fazendo o estágio. Para nós, após concluir essa etapa, ficou a impressão de inconclusão, de anseio por maiores experiências, por maior aprofundamento em diversas temáticas que permeiam o conhecimento em educação, a escola e à docência. Com essa experiência constatamos como maior aprendizado a mensagem para levarmos sempre em nossa consciência quando tratarmos a respeito de educação e escola, a certeza de que há um mundo de variações e surpresas no ambiente escolar e educacional, o novo sempre vem, não há formação para todas as situações encontradas na escola, muito menos nos educandos.

A escola todos os dias se mostra complexa e repleta de necessidades e autonomias diferentes, onde a nossa atuação deve ser estudada a priori e posteriormente aplicada com cautela para só então a partir dos resultados obtidos revermos a nossa ação. O estágio é uma etapa crucial em nossa formação, pois em meio aos estudos teóricos em sala de aula temos a oportunidade de estar institucionalmente representadas em uma turma de escola para trabalhar com o intuito de aprender, entendemos agora que o maior objetivo do estágio é o aprendizado. Levamos sempre na consciência que a teoria serve principalmente para o aprendizado, então por que não dizer o mesmo sobre a práxis? Fazer para aprender.

Durante a fase de observação, nos dirigimos a escola, fomos para conhecer o espaço e as pessoas que o frequentam, também fomos com o intuito de já começar a estabelecer elos de confiança com as crianças e com as professoras da sala de aula e da escola, também pretendíamos dar início as observações que nos trariam reflexões para também compor os aprendizados que o estágio nos traria. Também estávamos ali para iniciarmos a nossa pesquisa, realizando entrevistas com a docente e coordenação.

Na fase de coparticipação, a intenção era a de auxiliar as professoras da classe nas atividades pedagógicas e no cotidiano da escola sem deixar de fazer as observações, porém, agora com o dever de estar coparticipando das intenções educativas, interagindo e tornando concretos os laços de confiança.

Já na fase da regência, que ocorreu no período de 29 de outubro a 18 de novembro do mesmo ano, com carga horária de 135 horas, nós estivemos enquanto regentes da sala de aula, todo o trabalho do professor, como por exemplo a construção dos planos de aula e a aplicação de atividades e acompanhamento do aprendizado das crianças, se tornaram nosso dever por quatro semanas.

O estágio, assim como as outras disciplinas também de grande importância, busca realizar a integração de conhecimentos base ao(a) graduando(a) em Pedagogia no que tange ao estado de imersão no campo estudado e pela primeira vez no curso, coloca ao discente o direito de estar regendo uma sala de aula, os estágios são as únicas disciplinas que propõe essa dinâmica ao discente.

Em outras disciplinas também há a oportunidade de estar em contato com a sala de aula e as escolas enquanto pesquisador, mas somente nos estágios o discente pode fazer regência. Essa imersão busca proporcionar ao estudante uma experiência que lhe faça vivenciar enquanto estagiário um pouco do que um professor dos anos iniciais do ensino fundamental encontra em seu ambiente de trabalho e um pouco dos aspectos com os quais ele precisa lidar cotidianamente; sem que haja uma linearidade, pois sempre há algo novo para se deparar no contexto escolar.

Quando pensamos na construção do estágio sabemos que é algo que vai para além da observação pesquisadora, esse processo se compõe de etapas que contém, por exemplo, a coparticipação, em que já interferimos no meio estudado auxiliando nos processos regidos pela professora da classe, e a regência, onde construímos um projeto de intervenção pedagógica, nesse, evidentemente necessitamos demostrar um objetivo pedagógico a ser alcançado. O projeto de intervenção “Diversidade e respeito: convivendo com as diferenças” surgiu a partir do que vimos na observação e constatamos na coparticipação, detectamos uma problemática ou construímos uma ideia de contribuição que supra uma falta ou fomente alguma melhoria nos processos educativos e de aprendizagem na escola, assim construímos um plano dentro de um projeto pedagógico com objetivos gerais e específicos.

E na certeza a priori de que há essa objetividade no estágio, após vivenciarmos todo o processo, já na construção desse relatório identificamos também a importância de destacar a existência na subjetividade nesse processo, pois “não se pode pensar em objetividade sem subjetividade. Não há uma sem a outra”, portanto, estas dimensões “não podem ser dicotomizadas” (FREIRE: 1987, p. 37 apud WERRI, p. 17). Há um laço real entre a objetividade e a subjetividade, pois mesmo identificando nosso objetivo com a regência, ainda assim, tivemos que abrir espaço para a subjetividade, porque nós somente tínhamos domínio sobre o que planejávamos fazer, porém sobre o que aconteceria de fato como resposta ou reação do meio para com nossa ação tínhamos consciência da incerteza. A subjetividade, portanto, se fez presente, tomando evidência, em nosso processo de estágio.

Quando se trata do estágio em um curso de licenciatura, diversas são as discussões existentes a respeito de sua importância e muitas vezes ele surge com a aparência de algo desafiador, como o momento em que o estudante terá oportunidade de mostrar-se apto para o professorado, transmitindo a ideia de que para isso não há formação suficiente, como se para que um profissional da educação fizesse um bom trabalho ele devesse nascer com essa aptidão, assim a plenitude no trabalho em educação surge como algo inato, como se para isso existisse dom. Desconsidera-se assim o valor da formação docente com base em estudos, pesquisa e prática em continuidade. Limitar o saber docente a apenas um dom é esquecer-se de todo aprendizado teórico e prático que se adquire em tempos de imersão na educação. A respeito do não inatismo da aptidão para o professorado, como explica (PASQUALINI, 2010 apud CARVALHO, 2013, p.324)

Um ingressante em licenciatura (que nunca lecionou anteriormente chega à universidade com uma dada visão sincrética do fenômeno educação, o qual, não é possível fazer conclusões mais aprofundadas sobre esse fenômeno social. Pela sua natureza teórica e sistêmica a universidade põe esse aluno em contato com o conhecimento histórico universal acumulado a respeito do fenômeno educativo. A apropriação do conhecimento universal por parte deste aluno, sempre será uma apropriação singular, pois “se refere às definibilidades exteriores irrepetíveis do fenômeno em sua relação imediata, acessível à contemplação viva, ou seja, refere-se a sua identidade

 

O que levaremos a partir do estágio como conhecimento e como lição de profissionalidade, não se refere somente ao que a escola vai nos mostrar e sim refere-se ao conjunto de informações que a prática de estágio produzirá em consonância com o ambiente estudado, além de fisgar as informações dadas pelo educativo estágio, faz expelir atitudes do estagiário que se referem aos seus aprendizados teóricos de seu curso e conhecimentos prioritários até mesmo de sua imersão na universidade, além disso muito da identidade dos estagiários reverbera nas reações do mesmo diante das instigações propostas pelo cotidiano da escola. Não há imparcialidade na pesquisa e nem no pesquisador, da mesma forma acontece com o estágio e o estagiário, ambos são parciais, contém identidades e, portanto, respondem aos estímulos que lhes afetam de maneira que condiz com sua autenticidade.

O estágio em anos iniciais no ensino fundamental é uma etapa na qual o estudante de pedagogia tem a oportunidade de relacionar-se com o referido meio, conhecendo a forma que a sua relação com aquele ambiente toma em diferentes aspectos e em diferentes situações, é uma situação de troca, o meio educativo apresenta ao então estudante a sua complexidade para que com isso o conhecimento seja produzido. Como visto em (CARVALHO, 2013)

 

A atividade de conhecimento do estagiário se dá na própria relação com o real, não numa relação unilateral aonde o discente vai até unidade escolar testar as teorias aprendidas na universidade, mas sim numa relação dialética, de compreensão das particularidades e contradições que envolvem o trabalho docente. (p.323)

 

Com isso entendemos que nosso papel no estágio nos anos iniciais do ensino fundamental não se resume a uma etapa de pura avaliação, mas sim de aprendizado. Não podemos entender o que vivemos somente como um teste pelo qual passamos, ou como uma ajuda que demos a uma escola que desejava alguns estudantes para aplicar projetos com seus educandos. Na verdade, ali estivemos para fomentar conhecimentos que enriquecerão a nossa formação docente. O que sabemos é pouco se compararmos com a infinitude de aprendizados que estão disponibilizados pela prática em educação, pela imersão em um processo de escolarização como professor, o trabalho em educação ensina todos os dias.

Além de tudo isso, chega a ser injusto tratar dessa maneira o ambiente educativo onde o estágio acontece, pois assim o que dá a entender é que a escola pouco tem a ensinar e que tudo que há para ser aprendido encontra-se na universidade, é absurdo tentar dizer isso, pois a escola é uma das maiores representações da produção de conhecimento em todo o mundo. Não pode ser vista então como um simples objeto de teste, como um luar de prova, onde vamos para demonstrar nossas habilidades, conhecimentos e aptidões para a educação. E nada recebemos dela, nenhum estímulo? Muito pelo contrário, a escola produz para nós o que aprenderemos no estágio e o que estudamos antes de estar em contato com ela, situações que foram constatadas por outros estudiosos e também o que estudaremos a partir do estágio, com tudo aquilo que dele recebemos, os estímulos, as questões, as preocupações, as admirações, entre outras coisas.

No tópico “Competências e habilidades específicas” do Projeto de reconhecimento e renovação de reconhecimento do curso de Pedagogia da UESB, verificamos a seguinte colocação:

Compreende-se à docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. (p. 60)

 

E vimos nessa colocação nosso pensamento representado acerca do que é a docência. Mas para além disso esse tópico nos significou o que pensar sobre a construção de uma formação inicial do docente, processo no qual nos encontramos no momento e do qual o estágio é parte integrante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 O ESTÁGIO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES ACERCA DA PRÁXIS

 

Por ter encontrado nossa prática no estágio refletida no texto “Estágio e docência: diferentes concepções”, faremos uma análise desse texto discorrendo principalmente sobre os pontos que tocaram a nossa trajetória no estágio e que por isso devem estar destacados no presente relatório.

O texto “Estágio e docência: diferentes concepções”, prioriza a discussão a respeito do estágio nos cursos de graduação, é um texto que lança uma crítica principalmente ao entendimento sócio acadêmico a respeito dos usos da teoria e da prática na formação do profissional docente. A princípio as autoras vêm discorrer no texto sobre o lugar do estágio nos currículos dos cursos de formação, chamando atenção primeiramente para onde o estágio se mantém situado na maioria das vezes: no final dos cursos, assim como está acontecendo com o nosso estágio, como se estivéssemos chegado a parte prática da formação, posterior a toda uma teoria provinda de diferentes disciplinas.

Trazendo os conceitos de reflexão como principal fator de desconstrução dessa ideia, as autoras alçam uma crítica pertinente a esse modelo de pensamento de currículo formativo, pois para elas com base no estudo de outros autores a reflexão deve estar presente em todos os momentos, desde ao que se entende como estudo da teoria até o se apresenta como momento da prática.

            O texto traz então o fato de a maioria dos estudantes reclama do choque de realidade que vivenciam quando deixam as disciplinas anteriores ao estágio e partem para as instituições educativas como demonstrativo de como a realidade que a “prática” nos apresenta não está sendo refletida pelas disciplinas vistas como teóricas. A prática sofre então nesse contexto segundo as autoras o estereótipo que lhe foi atribuído, fazendo-lhe parecer menos importante e/ou mais superficial do que a teoria, principalmente na academia. Ao mesmo passo que tanto nas instituições de ensino quanto em meio aos estudantes em universidades, discursos como “só se aprende na prática” são enaltecidos, em decorrência dessa falha dos currículos de formação que as autoras apresentaram. Nós ouvimos muito isso durante todo o curso e por muitas vezes é algo que volta e meia estamos afirmando quando temos contato com o chão da escola.

É discutido também no texto algo que muito permeou nossas preocupações durante o estágio, o risco que provém do entendimento da prática como imitação, em que a preocupação é com o fato de produzirmos nossa atuação docente a partir do que vemos de outras professoras sem que haja de nossa parte uma reflexão a partir das ações que observamos. Pois a valorização das práticas e os instrumentos consagrados como tradicionais faz com que a escola se resuma a ensinar, ao invés de buscar métodos que supram as reais necessidades dos estudantes, independentemente de ser ou não a partir de um modelo tradicionalmente valorizado.

            Ao mesmo tempo há a preocupação com a instrumentalização técnica da atuação do professor que traz a ideia de que a ação pode ser pensada e constituída em rasos cursos de técnica e ser reproduzida em toda uma atuação e vida profissional docente, as autoras fazem uma crítica que mostra a necessidade de descontruir essa ideia e lembrar que uma atuação docente depende principalmente da reflexão provinda da experiência, ou seja, um plano e ação técnica devem ser refletidos a partir da situação em que ele será empregado, é perigoso a utilização de uma mesma técnica para praticamente toda e qualquer situação que um docente vivenciar, pois o educador está o tempo todo em sua atividade em contato com diferentes contextos.

 "Portanto, a habilidade que o professor deve desenvolver é a de saber lançar mão adequadamente das técnicas conforme as diversas e diferentes situações em que o ensino ocorre, o que necessariamente implica a criação de novas técnicas” (SOCORRO; PIMENTA,2005), isso torna o professor um profissional em constante processo de aprendizado, melhoria e criação de técnicas que se adequem as situações encontradas, pois por muitas vezes, pensamos estar preparados para todo tipo de acontecimento, entretanto, no chão da escola isso muda.

Nesta situação e nesse momento na qual a reflexão é apontada como grande importância para a atuação docente, o que toma protagonismo como ideia conclusiva do texto é a necessidade dos educadores se moldarem enquanto “intelectuais críticos e reflexivos”. Tomando então a posição de um pesquisador durante todo o processo de ensino-aprendizagem, pois a pesquisa nos mantém ativos e atualizados sobre os contextos em que estamos inseridos, podemos com ela observar o que nos é apresentado e pensar criticamente a partir disso para então formularmos uma ação amparada pela reflexão.

Selma Pimenta e Maria Socorro, 2005, preocupam-se ainda em relatar a respeito das possibilidades existentes para que os professores possam estar atuando enquanto pesquisadores, a partir disso as políticas públicas são o principal ponto apresentado, entendendo que há a necessidade dessa situação ser pensado por esses âmbitos sociais. O texto é finalizado apresentando a importância de pensar uma docência crítico-reflexiva coletivamente, pois não se faz educação individualmente. Por fim, a teoria e a prática são discutidas sem que haja um enaltecimento de uma em detrimento da outra. O texto aponta críticas a algo que refletimos bastante durante a disciplina, o estágio ser reduzido as perspectivas da prática instrumental e do criticismo e como isso expõe os problemas na formação profissional docente. É necessário deixar explícito que o estágio é teoria e prática e não um ou outro, pois essa dissociação empobrece as práticas nas escolas. Essa parte também apresenta que a profissão docente é uma prática social, capaz de intervir na realidade social, por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente nas instituições de ensino.

O texto em questão contém contribuições incontáveis para os que já atuam e aos futuros profissionais docentes e também para os iniciantes na docência e os que se encontram em processo de estágio, regência, coparticipação e/ou até mesmo na observação, visto que apresenta aspectos relevantes sobre a teoria e a prática, enfatizando a não separação de ambas, pois toda prática é norteada de uma teoria, mesmo que o sujeito não tenha consciência disso.

A pesquisa que realizamos durante o estágio se enquadra em uma pesquisa qualitativa de tipo etnográfico pois nela realizamos as três etapas principais de um estudo de caso etnográfico, as quais podem ser observadas na seguinte citação

 

Um estudo de caso etnográfico possui três momentos: uma etapa inicial de planejamento, uma etapa prolongada de trabalho de campo ou de coleta de dados e uma etapa final de sistematização e elaboração do relatório final da pesquisa”. ( MARTUCCI,  2001).

 

Podemos observar que todas essas etapas estão presentes no nosso estágio, desde a fase de planejamento da pesquisa que realizamos junto as professoras da disciplina até  a coleta de dados com observação participante, entrevistas e análise de textos escritos pelos sujeitos e a fase final,

 

quando o pesquisador sistematiza os dados e prepara o relatório, a teoria se reveste de um importante papel no sentido de fornecer suporte às interpretações e às abstrações que vão sendo construídas com base nos dados obtidos e em virtude deles” ( MARTUCCI,  2001, apud ANDRÉ, 1995, p.47).

 

Pensar a metodologia de pesquisa desse estágio nos faz pensar no estágio majoritariamente como pesquisa e isso é motivador para nós enquanto estudantes da ciência da educação, saber que nós podemos pesquisar, estudar, levantar informações e criar opções de crescimento e melhoria educacional é um ponto de grande valor encontrado no processo de estágio. Sair da ideia de estágio como teste ou treinamento do iniciante na docência a partir da leitura de textos e da reflexão crítica deles para o entendimento de estágio como pesquisa e construção de saberes é um avanço muito significativo. E ver isso de forma nítida na nossa prática nas aulas, na escola, nas nossas produções e agora na fase final de relatório é algo novo e enriquecedor.

 

 

 

 

 

2.1 DILEMAS

 

Durante os dias de regência enfrentamos muitos dilemas, alguns nós já imaginávamos, outros, nos pegaram de surpresa. Mas sabemos que eles fazem parte do cotidiano de qualquer escola e que teremos que enfrentá-los. Segundo Yinger (1986), a ação prática dos professores é como “um diálogo dilemático”, pois cada um dialoga com os seus próprios dilemas e conosco não foi diferente. Ao término de cada aula, sentávamos e dialogávamos sobre os dilemas daquela tarde e de o que poderíamos fazer para tentar saná-los ou ao menos amenizá-los. Nós pensávamos que se tudo fosse bem planejado, os dilemas seriam evitados e os que já existiam, seriam resolvidos, mas não era o que acontecia.  Segundo Freire (2014)

 

Um bom planejamento (necessário, evidentemente) não evitará que os dilemas e a incerteza da ação concreta apareçam. Por serem “sistemas abertos”, as aulas veem-se afetadas pelo princípio da equifinalidade, isto é, o desenvolvimento do processo não dependerá das suas condições de início, e sim da forma como é desenvolvido. Com inícios similares, pode-se chegar a situações diferentes. E vice-versa, partindo-se de situações diferentes, pode-se chegar a resultados similares. A chave está no processo e em como cada um dos momentos de tal processo vai condicionando os seguintes (apud ZABALZA, 2003, p.10).

 

E de fato, os dilemas continuavam a aparecer e passaram a se transformar em elementos importantes para solução de dificuldades e para a nossa melhoria profissional.

 

 

 

 

 

 

2.2 GESTÃO DA CLASSE VERSUS QUANTIDADE EXCESSIVA DE ALUNOS EM CLASSE COM DIFERENTES DEMANDAS DE APRENDIZAGEM

 

 

O principal dilema enfrentado por nós no estágio foi, notavelmente, a gestão da classe ou melhor dizendo: a não gestão da classe. Isto porque tivemos muita dificuldade em lidar com o grande número de crianças que compõem a sala. Eram 25 crianças com muita energia e, que assim como qualquer outra criança,  demonstrasse  dificuldade em se comportar do jeito que o modelo de escolarização vigente na maioria das escolas exige que eles se comportem.

O atual modelo de escola compulsória, o qual copiamos do resto do mundo ocidental, foi criado ainda no início da Era Industrial. E sua função era preparar a mão-de-obra oriunda do campo para as indústrias. Consequentemente, o modelo de organização e agremiação das escolas era um simples espelho do modelo organizacional das fábricas: os sinais tocando entre as aulas, indicando que uma acabou e que outra deve começar; os sinais anunciando o início e o fim do recreio; as filas e a ênfase na obediência e submissão; o ambiente maçante; as fileiras de jovens sentados passivamente em suas carteiras escolares obedecendo a seus professores; os professores obedecendo aos supervisores e ao diretor etc. — tudo isso foi modelado de acordo com a organização das fábricas. O problema é que já deixamos a Era Industrial há muito tempo e estamos entrando na Era da Imaginação. Mas o modelo escolar continuou estagnado na era das fábricas. (AUGUSTO, Flávio, 2017)

Os horários, o planejamento escolar, o currículo, a estrutura das escolas, tudo isso solicita das crianças que elas fiquem quietas, sentadas, fazendo somente o que lhe for ordenado por mais de 80% do tempo que elas permanecem na escola por dia. E quem acaba tendo o dever de garantir que isso aconteça de verdade é o(a) professor(a). Não queremos dizer aqui que as atividades propostas pelos professores não são interessantes para os alunos e por isso eles não mantém o foco, não é isso. Até porque se disséssemos isso estaríamos alegando que nós mesmas não fomos capazes de propor atividades que lhes interessassem. O problema é que sabemos que crianças não têm a mesma capacidade de foco que os adultos têm. Logo, quanto mais atrativos em um ambiente mais difícil é para que as crianças foquem em uma coisa só. E quanto mais crianças dentro de uma sala de aula, há mais atrativos para tirar o foco delas.

 

O Brasil está em uma campanha de ter todas as crianças dentro da escola, mas não podemos esquecer de que elas não devem estudar em unidades sem estrutura, ou colocadas como "a toque de caixa". Não é assim que teremos qualidade educacional: tendo excesso de alunos em sala, dificultando a participação dos alunos, gerando atrasos no desenvolvimento escolar. (OZÓRIO, V.A, 2003)

 

Sabemos que a interação das crianças umas com as outras é mais do que importante, é necessário para desenvolver bem as suas estruturas comunicativas, socio-interativas de relação interpessoal e até mesmo cognitivas, mas quando há um número excessivo de crianças o trabalho do professor acaba sendo desgastante ao extremo e são prejudicados, tanto o trabalho do docente quanto a aprendizagem das crianças.

 

Comenius expressou muito bem o sentido de ensinar nesta frase "A arte de ensinar é sublime, pois destina-se a formar o homem, é uma ação do professor no aluno, tornando-o diferente do que era antes." Célestin Freinet disse: "Em se tratando apenas de instruir crianças, talvez se pudesse aceitar, em certos casos, que elas fossem muitas."  (OZÓRIO, V.A, 2003)

 

E nós podemos dizer isso agora não mais somente a partir de uma perspectiva “teórica”, mas também como algo comprovado por nós mesmas em pesquisa durante o estágio. Pois nós tivemos grandes problemas inclusive para sermos ouvidas pelas crianças que em grande quantidade e agitados demais não paravam por mais de 5 minutos para nos ouvir.

Uma problemática que precisa ser mais estudada e ter mais ações interventivas produzidas para que possamos tentar melhorar a aprendizagem e produção de conhecimento em educação escolar é a questão da gestão da classe. Acreditamos que não dá mais para ficarmos de mãos atadas enquanto milhares de professores adoecem ou vivem sua prática docente de uma forma extremamente desgostosa, inclusive utilizando de atitudes negativas em escolas por causa da superlotação em suas salas de aula, nossa condição humana não suporta isso de maneira saudável.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, página 21) afirmam que o processo de aprendizagem de uma língua estrangeira é muito difícil nas escolas públicas, principalmente, devido às classes superlotadas, posso acrescentar que isto é difícil para todas as outras disciplinas também. (OZÓRIO, V.A, 2003)

 

Um limite menor de crianças por sala de aula deveria ser estudado e adequado para as escolas públicas, acreditamos que essa seja uma questão política/governamental. Pois, dificilmente os que estão no poder veem a educação com a importância que ela tem, na maioria das vezes ela é vista como um gasto e não como um investimento.

Segundo Gonçalves (2018)

Um desafio mais premente é apontado pela mais recente pesquisa sobre Políticas Eficazes para Professores: Compreensões do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgada na semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com o estudo, salas de aula lotadas, jornadas duplas de trabalho, com carga horária excessiva e baixos salários são alguns problemas enfrentados pela maioria dos professores no Brasil, e que colocam o País entre os piores do mundo para a profissão entre mais de 60 analisados. A média brasileira é de 22 alunos por sala de aula, no Ceará, chega a 40.

 

E diminuindo o número de crianças por escola, seria necessário construir mais escolas e gerar mais empregos, e formar mais pessoas e adquirir mais materiais escolares e produzir mais projetos socioeducativos, entre outras questões, tudo muito necessário a um país e seu povo, mas tudo muito desinteressante para aqueles que querem tirar proveito do que é público e de direito do povo.

 

 

2.3 ESTÁGIO VERSUS SOBRECARGA ACADÊMICA

 

Outro grande dilema enfrentado por nós, foi a sobrecarga da universidade, primeiro porque o estágio acontece no turno oposto ao que nos matriculamos para o curso, nosso comprometimento com o curso deveria ser apenas nesse turno, sendo assim, o estágio deveria acontecer no turno em que estamos matriculados, como em outras universidades, tendo apenas o estágio como disciplina do semestre, mas infelizmente isso não ocorre aqui. Segundo, porque o estágio exige muito dos discentes, é preciso ter tempo e condições para produzir com qualidade, mas nesse mesmo período temos muitas outras disciplinas para dar conta e todos os docentes se queixam da nossa tentativa em colocar o estágio como superior as suas disciplinas e exigem que tenhamos o mesmo compromisso de forma igualitária e infelizmente isso não é possível. Nossas produções e participações nas aulas não são feitas com a mesma dedicação e qualidade que no período sem estágio e isso reflete em nossas notas e dificuldades de compreender determinados conteúdos.

Não dá para produzir com tantas demandas e fazer de conta que elas não estão nos consumindo, fora que as exigências são ainda maiores porque o estágio ocorre no final dos semestres, que já é uma fase em que muitas coisas nos são solicitadas. Sendo assim, foi um grande desafio para nós, conseguir conciliar estágio e a enorme sobrecarga acadêmica imposta sobre nós nesse período, é muito desgastante e injusto com os discentes que já possuem tantas outras demandas (pessoais e/ou profissionais).

 

3. O CONTEXTO DA PESQUISA DESENVOLVIDA NO ESTÁGIO

 

 

A metodologia desenvolvida nesse estudo foi de abordagem qualitativa do tipo colaborativa com uso dos instrumentos da observação participante, entrevista semiestruturada, diagnóstico de leitura e escrita das produções das crianças e elaboração de um plano de ação para atender as necessidades de aprendizagem dos alunos. O diagnóstico foi essencial para identificarmos em qual nível de aquisição de leitura e escrita os alunos estavam, para que posteriormente, pudéssemos realizar as atividades de acordo com o nível de cada educando.

Já a entrevista semiestruturada, foi realizada com a coordenadora pedagógica da instituição e a professora regente da turma que realizamos o estágio. “A entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. ” (MANZINI, 1990/1991, p. 154).

 

Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. Isso fez com que muitas outras perguntas tenham sido respondidas sem que fossem feitas de forma direta.

Nesse período foram desenvolvidas algumas etapas necessárias para a efetivação do estágio supervisionado. Inicialmente todas as duplas foram a instituição para uma reunião com as professoras regentes, a coordenadora pedagógica e a nossa professora supervisora de estágio. Foi um momento de apresentação, pontuação de datas e de trocas de experiências.

Posteriormente, voltamos a escola para a observação da estrutura física e a realização das entrevistas com as professoras regentes e a coordenadora pedagógica.

Dias depois, voltamos para a realização da atividade diagnóstica de leitura e no dia seguinte, a atividade diagnóstica de escrita. No primeiro dia a atividade foi realizada com todos os alunos, mas no segundo, uma aluna não estava presente, entretanto, no período de coparticipação focamos nela e conseguimos identificar em que nível de aquisição da escrita ela se encontrava.

A próxima etapa foi voltar para a coparticipação, período em que observamos e participamos ao mesmo tempo, ajudamos em algumas atividades e fizemos a leitura de algumas histórias para os alunos.

E para finalizar, realizamos a última etapa, a regência. Foram quinze dias sendo regentes de uma turma, enfrentamos muita dificuldade com a gestão da classe, com o planejamento e com questões pessoais e profissionais, mas conseguimos finalizar o que nos foi proposto e exigido. Nessa etapa fomos responsáveis por todas as atividades realizadas pelas crianças, além de dinâmicas, músicas, histórias, vídeos e a organização de uma apresentação feita no dia da culminância.

 

 

3.1 Contexto da Escola Campo de Estágio e Descrição do Contexto da Turma de Estágio

 

 

        Diante da pesquisa que foi realizada por nós para entender o funcionamento da escola as relações pessoais estabelecidas e contexto educacional da mesma, nos foi possível observar os seguintes fatos:  A escola dispõe de uma admirável interação entre alunos, professores e demais funcionários, observamos que os mesmos dialogam sobre as mais diversas situações da escola e da vida. No que tocante a organização, a escola prepara seus alunos para a entrada nas salas de aula com: filas, oração e comando. O ambiente escolar é repleto de cartazes informativos, sobre o ambiente físico e também sobre questões educativas. Existem uma quantidade considerável de conflitos (inclusive relacionados a violência) que ocorrem nos ônibus com os monitores (eles conversam com a secretaria da escola sobre esses fatos para que sejam resolvidos). Há a cultura da formatura, quadros expostos na escola com as fotos das crianças e adolescentes formandos.

        Os projetos são feitos em conjunto: secretaria e coordenação trabalhando na produção.

           Existe na escola brinquedoteca, auditório, biblioteca, sala de secretaria e coordenação, refeitório, cozinha, quadra, salas de aula, banheiros: feminino e masculino.

No recreio as crianças brincam livres, na maioria das vezes correndo, os que querem tem a opção de pegar brinquedos na brinquedoteca dizer seu nome na hora de pegar e depois devolver.

          Grande   parte da família é presente na coordenação da escola. Os funcionários têm uma boa interação entre eles. O intervalo é de 30 minutos para as crianças lancharem e brincarem, a escola disponibiliza uma sala de brinquedos para as crianças locarem. 15:00 horas toca o sinal para o lanche e intervalo, 15:30h toca o sinal para os alunos retornarem para as suas salas. Após o recreio dos menores 1° e 2° anos começa o recreio dos maiores 3°, 4° e 5° anos. A escola dispõe de reforço escolar e entre outros recursos como sala de AEE, auditório, pátio, refeitório, salas de secretaria e diretoria.

 

Contexto da Turma:

        A turma na qual realizamos o estágio supervisionado era composta por 25 alunos, sendo 13 meninas e 12 meninos, com idades entre 7 e 8 anos.

            Durante o período de observação foram os seguintes pontos que observamos: No início da tarde antes de qualquer coisa em sala de aula as crianças fazem a oração do pai nosso. Em seguida a professora inicia uma conversa com as crianças sobre os avisos, reclamações e orientações. Inclusive durante a observação a reclamação mais frequente foi a respeito do mal comportamento das crianças nas aulas de educação física. Para o recreio, a professora sempre orientou que brinquem com os brinquedos ao invés de ficarem correndo para não se machucarem. É cultural na turma que a Professora faça a chamada. Os alunos estão acostumados com atividades digitadas.

 

3.2   Etapa da Observação Participante

 

Nos dias 16 e 17 de setembro de 2019, foi feita a observação participante, na qual tivemos a oportunidade de identificar a grosso modo o comportamento da turma, a posição da regente e da profissional responsável por auxiliar um aluno com necessidade educacional, além de iniciar um vínculo afetivo com as crianças. E pudemos também observar os costumes e rotina da turma e das docentes para estarmos familiarizadas quando estivéssemos no período de regência.

 

3.3   Etapa das Entrevistas

 

            A etapa das entrevistas foi uma parte da pesquisa anterior a coparticipação e regência, necessária para adquirirmos conhecimentos a respeito da escola em geral, porém, principalmente da vida profissional das docentes e coordenadora pedagógica, tanto sobre suas trajetórias na educação, quanto sobre a sua experiência com a escola na qual realizamos nosso estágio.

No dia 17 de setembro de 2019, nos dirigimos até a escola para a entrevista com a coordenadora e posteriormente cada dupla foi para a entrevista com a professora regente da turma em que realizariam o processo de estágio.

Nossa dupla por exemplo, entrevistou a professora Juliane que muito contribuiu com nossa pesquisa. Por exemplo, ao ser questionada sobre a existência da suficiência, ou não, que sua formação tem para a mesma, ela nos respondeu: “Sim, mas é sempre bom estar buscando o melhor para se aperfeiçoar”. A resposta dela para nossa pergunta nos ajudou muito a entendê-la enquanto docente estudante, pois é notório que ela vê que a formação é um processo continuado e que não se encerra depois de um curso qualquer de nossa trajetória. As dúvidas vão surgindo, a necessidade de aprender também e a dúvida é uma coisa boa, sem ela ficaríamos estagnados, acreditando que de tudo sabemos.

Nos foi possível observar também com a próxima questão da entrevista que iremos descrever aqui, que há uma consonância entre o que vivemos no estágio e os obstáculos que enfrentamos e o que a professora vive e enfrenta em sua prática. Quando questionada sobre os desafios encontrados por ela em sua docência, ela nos respondeu: “Muitos. Família (participação) e apoio, isso afeta o desenvolvimento deles; a superlotação da sala”. A questão da não participação da família não nos afetou tanto no estágio, pois tínhamos um curto período de tempo para lidar com a turma, pensando nesse parâmetro familiar, porém o fato de ela citar a superlotação nos deixou acalentadas agora após o estágio, pois percebemos que esse não foi um problema observado somente por nós duas e que temos base para poder falar sobre isso, foi difícil para nós lidar com tantas crianças durante 3 semanas e sabemos que é mais difícil ainda para os professores que têm que lidar com isso todos os dias.

E por último deixamos aqui a resposta da docente ao perguntarmos sobre as motivações que fizeram dela uma professora: “Fiz magistério porque queria ser professora e gosto do que faço, apesar de desvalorizada sempre quis ensinar e gosto do que faço”, essa resposta muito nos anima, mesmo com a realidade de desvalorização da docência em que vivemos, ainda é possível conhecermos pessoas que gostam da educação e de ser educador(a) e isso é motivador, não para romantizarmos as situações difamantes, mas para ganharmos força para lutarmos pelo que acreditamos.

 

 

 

3.4   Etapa do Diagnóstico de Leitura e Escrita [1]

 

            Para a realização desta etapa, nos reunimos na UESB com as demais duplas de estágio e definimos o tema que seria trabalhado no diagnóstico. A partir daí, em conjunto com a outra dupla que também realizou o estágio em uma turma de 2º ano, desenvolvemos as atividades por nível, para diagnosticarmos o nível de aquisição de leitura e escrita que os alunos se encontravam.

No dia 25 de setembro de 2019, realizamos a atividade de leitura, pedindo que os alunos fizessem a leitura coletiva e individual e no dia 26 de setembro, foi feita a atividade de escrita.

 

3.5  Etapa da Coparticipação

 

            A etapa da coparticipação foi realizada nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2019, nos quais observamos, mas também participamos de forma ativa nas aulas. Auxiliamos a regente em algumas atividades, fizemos a leitura de algumas histórias e fomos para o intervalo supervisionado. A etapa da coparticipação foi muito contribuinte pois ela liga a etapa de observação à regência, partir para a regência sem ter antes essa familiarização com o campo não seria confortável.

 

3.6  Regência

 

A regência foi a última etapa realizada, contando com o processo de assumir a sala, reger as atividades e lidar com as demandas, além de finalizar o estágio com a culminância, esta etapa ocorreu de 29 de outubro a 18 de novembro de 2019. A regência como esperado pela maioria dos discentes foi a etapa mais difícil para nós, de um modo geral, pois foi assim para todas as duplas de nossa turma. Os motivos estão descritos nos dilemas postos nesse relatório, dos quais foram os principais: a grande quantidade de alunos em sala e a quantidade exagerada de demandas da universidade durante o período de estágio. Mas ainda assim a regência foi um componente que nos trouxe grandes aprendizados, principalmente dentro do campo da alfabetização, pela primeira vez nos vimos pondo em ação um método de alfabetização e com isso nós aprendemos muito e foi bastante satisfatório ver que as crianças desenvolviam aprendizados conosco.

Ainda nos foi possível construir conhecimentos a respeito da vida em sociedade, das diversidades, do respeito e da paz. Isso tudo foi o que marcou nosso processo de regência.

 

 

 

 

4. REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DESENVOLVIDA NO ESTÁGIO: OS CAMINHOS EXPERENCIADOS

 

Nesta seção iremos nos posicionar individualmente a respeito dos principais pontos que marcaram nossas experiências durante o estágio nos anos iniciais do ensino fundamental. Dissertando sobre nossas impressões, aprendizados, conquistas e obstáculos.

 

 

4.1 Por LORENA SOUSA OLIVEIRA

 

            Para começar bem do início mesmo gostaria de falar sobre as aulas de estágio. Inicialmente foi difícil, mas depois foi passando, fomos entendendo o perfil da disciplina, compreendendo o estágio e o que nós estávamos pensando, fomos pesquisando o significado, o conceito e a arte da pesquisa qualitativa e agora aqui estamos. 

Na terceira semana de estágio e eu e minha dupla, já estávamos em um misto de alívio e preocupação. Mas nada comparado a primeira semana de regência, não que a segunda também não tenha sido difícil, mas digamos que eu já tinha entrado no ritmo da coisa, "dançando conforme a música".

                   Nesse momento aqui, escrevendo me lembro do estágio anterior, o estágio em educação infantil, que no relatório (na parte do memorial individual) eu desabafava, a mesma queixa que penso em deixar aqui agora. A naturalização de salas com uma grande quantidade de crianças, dá um artigo. Pois é, percebi isso agora também e vou escrevê-lo. Gente, é um absurdo como nós passamos tanto tempo sobrevivendo a educação nessa situação, é contraditório tentar fazer educação desse jeito, nós funcionários docentes e não docentes nos cansamos de uma forma totalmente longe do saudável e as crianças/os adolescentes também. 

Já tive oportunidade de conversar com diversas professoras da educação básica que desabafaram comigo sobre como se sentem diante dessa situação, não é fácil. Eu acredito muito que a educação só acontece de verdade quando existe o prazer na aprendizagem e no ensino. Mas como existir prazer nessas situações em que o tempo todo nós docentes e os discentes também só podem pedir que o tempo passe para que possamos ir embora da escola? Isso não pode ser naturalizado, ainda mais naturalizado. Todo cidadão tem direito de lutar por seus direitos e nós enquanto pedagogas e pedagogos temos o direito de lutar pela nossa profissão e pela transformação do que está posto historicamente a ela.

                Vou em busca da oportunidade de mudar isso, porque conheço meus direitos e os direitos das crianças, elas precisam de uma aprendizagem garantida e que seja prazerosa o que é quase impossível dentro dessas condições de salas cheias observada nas escolas. Precisamos de mais escolas e mais funcionários docentes e não docentes, precisamos de emprego, espaço, vagas para estudo e trabalho. Não precisamos de cursos preparatórios de gestão da classe sobre como sobreviver a condições precárias dentro de uma sala de aula, como "matar até 3 leões por dia", como ensinar a qualquer custo. Não precisamos disso. 

Precisamos ter condições saudáveis para construir conhecimentos junto aos educandos sem precisar sentir remorso ao final do expediente por não ter tratado com gentileza a quem tanto precisa da gente por não ter escolha, "ou é isso ou é nada". Não, nós temos escolha sim e se depender de mim isso não fica assim. Sobreviver a vida inteira para que outros passam viver em abundância? Não, eu quero vida em abundância para todos.  "A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte". Eu sempre entendi essa frase, mas nunca entendi tão bem como estou entendo agora.

            Você leitores devem estar pensando, "Meu Deus, o que foi que aconteceu no estágio dessa menina?". Nada de diferente, esse desabafo posto acima é só uma descrição do que acontece todos os dias nas escolas. Esse foi o principal marco do estágio até aqui. E então vocês devem estar se perguntando e o que mantém ela ainda no estágio?

 

              O que me mantém é o desejo das crianças pelo aprendizado, isso é o meu combustível. Eu precisava me apegar em algo para me manter nesse estágio não só na forma física para passar na disciplina e poder pegar meu diploma, mas também na forma d’alma. E o que me sustentou ali foi ver a carinha de felicidade de Riana ao ver que estava aprendendo a escrever e o carinho dela ao achar que devia isso a mim, foi ver a expressão de Julio ao olhar para a minha boca tentando observar o movimento que eu faria com ela para que ele soubesse qual silaba eu estava pronunciando, foi ler as frases e desenhos escritos pelas crianças quando pedimos que escrevessem sobre o que é ser família.

 

Foi o sorriso de Gideão ao conseguir concluir uma atividade. Foi vê-los fazendo uma coreografia sem nenhuma técnica, mas linda pela simplicidade e verdade passada. 

Pois é, aqui estamos na terceira semana e até aqui esses fatos nos sustentaram. 

               A primeira semana foi de preocupação, rouquidão, estresse, correria e surpresa, além de adaptação às novas situações vivenciadas, como aplicar um método de alfabetização por exemplo. Mas também teve risos e trocas de afetos.

              Na segunda semana já observamos mudanças na aprendizagem das crianças, mesmo que com as mesmas condições de gestão da classe, mesmo com bronca o tempo todo. A segunda semana até agora foi a que mais gostei, foi durante ela que entendi o motivo de estar ali, eu precisava sentir que o meu trabalho produzia bons frutos na vida daquelas crianças.

Hoje é terça, segundo dia da terceira e última semana e ontem a "turbulência" foi a mesma das outras semanas, essa questão não mudou, por mais que tenhamos tentado e a resposta está no que expus mais acima, a solução não é o esforço do professor, mas sim a mudança nas condições precárias da educação escolar brasileira. Mas ontem também vimos que muitos deles evoluíram no aprendizado, estamos felizes por isso e também porque falta pouco para acabar, sendo sincera. Porque nos tempos em que vivemos não cabe fazer cerimônia ou enfeitar as situações. Como diz a professora Nandyara: "ultimamente estou assim, na base do sincericídio".

     Segue um print de uma postagem minha no Instagram sobre o processo de estágio :

Retorno agora, na madrugada de Quarta-feira, 13 de novembro.  Ao som do choro da minha cadela que sofre de Leishmaniose. Para diminuir o meu foco no choro dela venho aqui escrever sobre o estágio. A madrugada é silenciosa e infelizmente nos deixa ter foco total em coisas que fazem barulho, como o sofrimento sem saída de Lua agora.
Sabe, caro leitor, acredito que isso também deveria se aplicar a outras questões/ outros momentos da vida de uma forma boa, como no estágio por exemplo, a vida deveria parar em relação as outras coisas que temos para fazer, para viver, para chorar, para dar atenção, e etc, quando estivéssemos em uma fase que pedisse tanto de nós como no estágio do nosso curso de graduação.


            Mas ela não para, não podemos nos dedicar exclusivamente ao estágio, temos que nos virar para resolver o todo, a todo momento, menos na madrugada, na madrugada, na maioria das vezes se você tiver um problema, ele fará mais barulho até mesmo do que o seu cansaço e assim se torna exclusivo. Mas eu sei que vai passar, nada é para sempre, nem as dores, até a vida é um estágio, não é mesmo? E mesmo que por vezes dolorosa, eu desejo que ela seja longa, para que possamos aproveitar as partes boas e aprender com as ruins, já que elas são inevitáveis.

 Tem sido assim na vida e no estágio também, o tempo todo na regência estamos vivendo momentos bons e ruins, talvez o dobro de ruins, mas é isso.
A terça feira foi forte, viu? As vinte e uma crianças de hoje pegaram pesado com a gente, para não dizer que eles não pararam para nos ouvir coletivamente, nos ouviram duas vezes, por um minuto em cada vez.

Mas eu tenho orgulho de nós, porque somos guerreiras, cheguei em casa com dor de cabeça, mas nós dissemos tudo o que tínhamos para dizer, tentamos passar tudo o que tínhamos a passar, aprendemos tudo o que tínhamos para aprender e voltaremos hoje, nessa quarta-feira, para continuar. Falta pouco, graças a Deus!
Eu já iria concluir, mas outra questão falou alto na minha cabeça, já ouvi de mim mesma e de outras pessoas, inclusive hoje da cuidadora de um educando da sala que sala de aula não é para mim. Eu não sei o que pensar quanto a isso, as vezes me acho incompetente para estar em sala de aula com crianças, as vezes me acho desesperada e infantil, sem controle da turma, mas sinceramente, não acho que o problema disso tudo esteja em mim, acredito que o problema seja o cenário que expus lá no início desse diário.

Aqui para nós, leitor, esse é o melhor relatório que já escrevi, o mais sincero, o mais real, não precisei "encher linguiça" e nem enfeitá-lo com palavras desvinculadas da realidade, estou simplesmente relatando de verdade.
Acho que ainda não disse a vocês que também estou muito orgulhosa de mim por ter escrito vários textos (muito bons, modéstia à parte) para esse estágio e as crianças gostaram, tanto que custaram a acreditar que eram meus. Toda vez que perguntava de quem eles achavam que era, eles respondiam: "Ruth Rocha" ou nomes do tipo e aí eu lhes corrigia dizendo que eu era a autora e a carinha de surpresa e admiração deles me deixava flutuando, uma coisa linda.

Bom, vou deixar um dos textos aqui. Segue:

O que é ser família?

 

Como se faz uma família? Será que dá para fabricar?

Uma família bem grande ou bem pequena, será que eu posso montar? A minha própria família, será que eu posso imaginar? Uma família que seja perfeita para mim como as árvores são para o ar, ou como as ondas são para o mar, ou como o ímpar é para o par? Será que eu posso consertar qualquer errinho, qualquer ofensa, qualquer problema, qualquer dilema, na minha família de nascença?

 

Tem pessoas que nascem em sua família correta, tem pessoas que vão para um lar que o outro entrega, para ser o seu lugar e ter alguém para cuidar.

Uma família não se escolhe, é verdade, posso falar, família se encontra sem saber em qual lugar, esse encontro acontece em alguma fase da vida, pode ser criança ou pode ser adulto, acredite, é possível que pessoa não tenha encontrado ainda.

 

Porque família é proteção, amor, carinho e compaixão, pode ser uma pessoa, duas, três ou mais de mil, pode ser um amigo, a vovó, o vovô ou o titio, pode ser a titia, a amiga, ou a mamãe, pode ser o seu gatinho, o cachorrinho ou irmãozinho, pode ser tudo isso junto, em um lar pequenininho e pode ser uma família   com duas mamães ou dois painhos.

Pode estar um pouco longe ou do lado, bem pertinho.

Nossa família é quem faz nosso coração ficar quentinho.

Família não é quem maltrata e nem quem quer nos machucar

 

Agora que entendemos um conselho eu vou te dar:

Imagina ser família de alguém que precisar, para isso basta somente você amar, respeitar e cuidar das pessoas que também precisam ter um lar.

 

Espero que tenham gostado, minha cachorra está mais calma, vou tentar dormir um pouco, volto logo mais. E eu disse que voltava logo, hoje já é sábado e foi agora que voltei, não tive condições emocionais de vir escrever aqui na quarta e nem tempo na quinta, na sexta eu descansei. Então vamos lá, no diário das fontes pré-profissionais eu expus um pouco sobre minha relação com a negritude e os problemas de racismo aos quais estamos expostos. Não tem sido fácil, esse ano e especialmente nos últimos meses, ouvi muita coisa triste e racista as vezes ditas para mim, de mim, do outro ou para o outro. Mas essa quarta-feira no estágio me magoou demais.

Resolvi, quando escrevi meu plano de aula dessa semana, trabalhar a história do povo afro-brasileiro, os processos vividos de escravidão e violência de diversos tipos, a vida real (no sentido de realeza que meu povo de África tinha antes de ser trazido para o Brasil a força) e o racismo, entre outras coisas. Imaginei uma aula massa, mas minhas expectativas nem de longe foram sustentadas, as vezes sou muito inocente. Eu sei da realidade, mas dificilmente eu espero encontrá-la. Levei um cordel sobre a Princesa Aqualtune e sua família Real que foi escravizada no Brasil, foi infinitamente abusada pela escravidão, liderou e fortaleceu o quilombo de Palmares, foi a avó de Zumbi e mãe de Ganga Zumba, guerreira e entre outras grandes questões.

Levei tudo isso de modo adaptado a idade e linguagem das crianças com ajuda da leitura do cordel que transformei em contação de história.
Mas todo preparo ainda é pouco diante das marcas do racismo na sociedade. Enquanto eu mostrava para eles as primeiras imagens dos personagens negros na história, as crianças reagiam com palavras exatamente assim: "an an an que feio", "esses pretos são feios viu, Pró?", "Deus é maais", "que feiaa"... Entre outras duras palavras, na minha cabeça um turbilhão de pensamentos: "O que será que está passando na cabeça das outras profissionais presentes na sala? Tenho medo de que não entendam a situação que estou passando agora".

"Meu Deus eu preciso desconstruir esses pensamentos dessas crianças". "Eu não acredito que eles estão dizendo essas coisas".

"Quero sair daqui chorando, mas tenho que concluir a contação da história".

Foi desesperador ! Mas por mais incrível que pareça eu consegui concluir fingindo plenitude, só fingindo mesmo porque eu estava arrasada, cada palavra daquela que saia da boca das crianças era como se estivessem me batendo forte. Não vou diminuir as palavras aqui para ser mais confortável para o leitor até porque racismo nunca será confortável para quem sofre com ele. Mas sabem de uma coisa?

Que bom que pude ver mais uma vez o quanto é forte o processo de racismo, é triste, mas assim eu nunca vou esquecer e nunca vou deixar de lutar contra ele e minha principal arma será a educação SIM. Sabendo que vou incomodar inúmeros educadores, mas eu estou aqui para isso, meu povo nasceu para isso, para incomodar!

E não pensem que eu parei na contação, tinha preparado o conto de uma reportagem real de um caso de racismo sofrido por uma criança. Depois de eu ter conversado com eles sobre as falas tristes que ouvi, a situação ficou menos difícil, eles repensaram algumas coisas. E aí quando eu falei sobre a reportagem eles se mostraram comovidos e discutiram comigo sobre as boas e ruins atitudes observadas no caso.

Na quinta eu levei 3 vídeos para eles assistirem e com muita dificuldade eles ficaram quietos para assistir, foi preciso muita bronca para isso. Um vídeo foi sobre inclusão, um episódio de um desenho animado "Milly e Molly" com uma personagem cega (criança) o outro foi a contação de história sobre as bonecas Abayomi, bonecas feitas de nó em tecidos pelas mães negras escravizadas para que suas filhas conseguissem sobreviver a tristeza de navio negreiro (a linguagem da história é bem mais leve).
O outro vídeo foi da história "Menina bonita do laço de fita" que alguns já conheciam. Os resultados adquiridos com os vídeos também foram positivos.

Além de trabalhar essas temáticas, na quarta e na quinta, ensaiamos bastante para a culminância do estágio, que será segunda- feira.
Outras grandes dores de cabeça foram as que adquirimos durante os ensaios, vontade de simplesmente ir embora da escola, as crianças estavam literalmente fazendo "pouco caso" de nós, nossa voz já não bastava. Mas ensaiamos, já vi que esse diário está cheio de "mas" e com isso eu me lembro de uma frase que a minha amada tem repetido muitas vezes ultimamente para mim, "o corpo cansado resiste" porque ele não pode parar. Não acuso somente o estágio pela crise que tive na quarta e na quinta-feira, a minha existência é permeada por muitas outras questões. Mas aqui estou, não sei se firme, mas com certeza resistente. O estágio está acabando só falta mais um dia e fim. Que bom que aprendi.

 

4.2 Por GRAZIELE BISPO DE SOUSA

 

(Foto tirada durante o período de coparticipação)

 

 

A foto acima é uma das que mais gosto das que foram tiradas durante o processo de estágio, nela me encontro lendo uma história para os alunos e a leitura é algo que gosto muito, meu refúgio por muitos anos e sei o quanto ela pode melhorar e transformar quem lê.

A experiência que vivenciei durante esse estágio supervisionado foi muito além do esperado. Eu sou uma pessoa que cria muitas expectativas sobre toda e qualquer situação, e com esse estágio não foi diferente. Além das expectativas, tive muito medo, medo de não conseguir dar conta de tudo que o estágio exige de nós e de acabar me frustrando comigo mesma, em decorrência dos obstáculos enfrentados durante esse período. 

Se fosse pra resumir o estágio em uma frase, eu diria: "Nem tudo são flores!”

Uma frase super clichê, mas que descreve perfeitamente o que penso nesse momento após concluir o meu processo de regência nos anos iniciais do ensino fundamental. Se eu tivesse que descrever esse processo em uma palavra, seria batalha. Na qual eu venci em alguns dias, mas fui vencida em outros e as sensações vividas foram o que tornaram esses dias tão intensos e necessários para a minha formação acadêmica. O estágio é desgastante física, emocional, psicológica e financeiramente, exige do estagiário em todos os sentidos, mas o que seria de nós sem essa oportunidade da prática?

Foi nessa situação que me deparei com a vontade de desistir, o sentimento de impotência, os questionamentos sobre o curso e a nossa prática, mas foi aonde eu me descobri mais forte e persistente, capaz de driblar as circunstâncias e conseguir colocar o meu planejamento em prática. Descobri que planejamento é sinônimo de flexibilidade e que a educação é o caminho, um caminho árduo, denso, com muitas dificuldades no percurso, mas que na linha de chegada, os frutos colhidos são saudáveis, o reflexo de todo um processo é visto e tudo passa a valer a pena. E é com esse pensamento, não de mudar o mundo, mas de mudar a mim mesma e ao meu aluno que pretendo seguir na educação, seguir firme e acreditando no poder transformador que podemos plantar um no outro.

 

   

 

Foi indescritível ver o desenvolvimento de muitos alunos e perceber que contribuí para que isso acontecesse, isso faz todo esforço valer a pena, cada estresse, noites mal dormidas, cansaço físico, gastos financeiros... se tornam degraus necessários para esse incrível resultado.

Foi muito bom descobrir que mesmo com tantas dificuldades e demandas para dar conta, eu arranjava forças para conseguir colocar em prática o que havia planejado. Com toda a certeza afirmo que esse estágio foi fundamental para ir me moldando no âmbito pessoal e profissional, fui testada por mim, pelas demandas, pelos alunos, pela regente, pela professora supervisora e pela minha dupla, mas com muita dedicação e em alguns dias valendo por duas ou três, consegui obter êxito nesse processo tão complexo, mas necessário na vida de um graduando.

(FOTO TIRADA NO DIA DA CULMINÂNCIA: TURMA DO 2º ANO)

 

    

(FOTO 1: COM A REGENTE DA TURMA)   (FOTO 2: COM A REGENTE E A PROFESSORA SUPERVISORA DE ESTÁGIO)

(FOTO TIRADA COM A PROFISSIONAL ESPECIALIZADA NO SUPORTE DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS)

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

O estágio em anos iniciais do ensino fundamental compôs uma das fases mais difíceis de nossa graduação, estarmos inseridas em sala de aula pela primeira vez como regentes de ensino fundamental já no penúltimo semestre do curso nos deixou apreensivas e foi difícil concluirmos. O estágio foi exaustivo, a turma em que estagiamos era composta por crianças que não se deixaram enquadrar ao que pede o modelo de escolarização vigente: quietude, atenção constante aos professores, contenção de suas energias e entre outras coisas e não as culpamos por isso. Além disso a carga horária e sobrecarga de atividades da universidade durante o próprio período de estágio foi outro grande dilema para que enfrentássemos. O que nos acalentava durante o processo de estágio era saber que nosso esforço físico e psicológico excessivo estava tendo resultados: a aprendizagem das crianças.

Durante esse estágio observamos que educar com alegria e prazer dentro do sistema de ensino e sociedade vigente, é como nadar contra a maré. Mas temos orgulho em fazer parte dessa luta, pelo povo, pelas crianças e pelo futuro da humanidade. Foi muito importante também o processo de criação do projeto, dos planos de aula e das atividades que utilizamos, acreditamos que tudo seja muito importante para nossa constituição enquanto docentes e sabemos que iremos levar cada experiência e aprendizado desse processo para a nossa vida e trajetória na educação.

 

 

 

 

 



[1] Consultar o diagnóstico que está no Projeto de intervenção na página 38.

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