sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Fontes Pré-Profissionais


 
Meu memorial de uma parte de minha vida




                                   
                         Meu nome é Lorena Sousa Oliveira, eu nasci em 1999 no dia 24 do mês de fevereiro, na cidade de Ipiaú na Bahia. Eu sempre fui muito chorona, desde recém-nascida (e sou até hoje) dei muito trabalho para meus pais na hora de dormir, pois eu preferia dormir de dia e chorar à noite, antes de ingressar no curso de pedagogia eu não conseguia entender como essa fase pode dizer tanto sobre nosso procedimento futuro. Comecei a andar com apenas 8 meses, eu vivia caindo, tropeçar do nada era o meu forte, a primeira palavra que eu falei foi mamãe. Fui relativamente precoce nesses quesitos e isso essa precocidade se manteve na minha infância, de forma clara, até na 1° série do ensino fundamental 1, quando fui convidada a mudar de turma na escola, para uma mais avançada em que eu me encaixasse melhor. Já tinha uma irmã quando nasci, mas depois ganhei outro irmãozinho, éramos um trio muito divertido, eles contribuíram grandemente para que eu tivesse uma infância feliz.

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Fevereiro,1999                 Novembro, 1999                                  2004
Nascimento                        Primeira palavra                           Alfabetização


 Fui para a Escola Municipal Italva Myrtens Bittencourt, em Ipiaú, (começando pela pré-escola, que no meu caso foram duas séries, o “prézinho” e alfabetização) com 4 anos de idade, e nunca esqueci o meu primeiro dia de aula, me lembro que todos em minha sala choraram quando seus pais foram embora, menos eu, também me lembro muito bem da minha primeira professora, tia Vera, eu gostava muito dela. No prézinho nós aprendíamos cantigas, brincadeiras e me lembro de aprender algumas letras, eu adorava a hora do lanchinho, não me esqueço, nós pegávamos nossa lancheira que trazíamos de casa, cantávamos a música comer, comer e comíamos. As cantigas marcaram muito minha educação infantil, eu as lembro até hoje e quando canto consigo sentir novamente como era os momentos em que eu, criança, as aprendia na escola. Com isso eu pude ver o quanto a memória é importante e deve cada vez mais ser estudada pela pedagogia. Cada palavra, melodia, dança e dinâmica das músicas se mostravam muito interessante para mim, eu sempre gostei muito de arte, sou grata por ter tido oportunidade nessa escola de manifestar e usar minha criatividade nela.

                                         
                                         

A alfabetização, em questão lúdica, não foi muito diferente, porém nela nós já começávamos a aprender a ler, escrever e contar com a pró Agenólia, também muito querida por mim. A variedade de práticas desenvolvidas por essa professora, foi algo que muito me encantou, relembrar isso foi muito importante para mim pois, pude perceber o quanto eu quero poder trabalhar dessa forma, com essa variedade, a ludicidade sempre me encantou, o ato de levar às crianças coisas novas sempre, coisas que lhes encantem, instiguem sua criatividade, lhes mostrem como o mundo é vasto e pode ser mais e mais bonito se soubermos interferir nele com determinação e dedicação. Todos esses encantos que a professora nos apresentava só fazia com que cada vez mais nos apaixonássemos por seus ensinamentos e consequentemente por ela, eu também quero poder sentir esse amor um dia, esse amor de uma criança não só por mim como, consequentemente, por meus ensinamentos.
Quando a professora nos apresentou a proposta de escrever diário, eu me recordei dos portfólios que eram produzidos por algumas das minhas professoras nos meus primeiros anos na escola, eles eram recheados com as atividades que nós produzíamos durante todo o ano e que a professora guardava com todo cuidado, escrevia suas observações em cada uma delas e nos entregava no final do ano letivo, no dia da festinha de encerramento.
Esse portfólio igualmente ao que produzimos agora, já no ensino superior nos preparando para sermos também professores, nos fazia relembrar e refletir sobre cada passo que demos anteriormente e como tudo aconteceu para que chegássemos até ali, mesmo ainda sendo crianças a auto-observação mexia com a gente, e ainda mexe muito comigo, eu sempre olhava cada atividade por mais simples que fosse procurando algo se destacava nela, parecia estar procurando algo de me caracterizasse, parecia procurar a mim mesma naquelas atividades, parecia querer entender minha identidade e me conhecer como pessoa na minha individualidade, hoje sei o quanto isso é importante e necessário para um processo de formação seja ele infantil ou docente, pois cada ser tem sua individualidade e ela deve ser entendida para que seja melhor trabalhada e melhor aproveitada.
                                             
                                        


Depois disso, com 6 anos, fui para a 1ª série do ensino fundamental 1, e eu me recordo que eu já sabia ler e escrever bem, gostava muito de leitura, interpretação de textos e desenhos, poder desenhar sobre a história que acabava de ser contada, ou lida, para mim era um privilégio e para minha alegria a professora dessa série, Helena Selma, trabalhava muito com isso, histórias e contos, não só nos proporcionava ler como também escrever sobre elas e criar histórias nossas. Na primeira série o que se destacou para mim foi o “Era uma vez”, que nós trabalhamos bastante, e eu amei, os jogos em sala, desenhos, música, interpretação, entre outras coisas.
Os anos seguintes continuaram com esse mesmo estilo pedagógico, mas claro, sempre se adequando a cada nova série, e idades e conteúdo. Minha mãe me ajudava muito em casa com as atividades escolares e além delas, ela ainda reforçava meus estudos, me colocando para fazer cópias e estudar tabuada. A presença dela na minha educação foi essencial, o cuidado e o interesse dela para com o meu aprendizado me tocava muito, eu tinha aquilo como um incentivo, meu desejo era voltar para casa sempre com elogios e bons resultados para que pudesse mostrar  a ela e vê-la feliz, assim como também ao meu pai, que mesmo passando o dia todo trabalhando longe, quando chegava e casa procurava tempo para nos ouvir e aconselhar sempre, o sorriso dele também me inspirava e inspira até hoje , esses dois, minha mãe e meu pai tiveram papeis importantíssimos na minha educação, muito eu e meus irmãos devemos a eles, nós não poderíamos ter tido melhor apoio, eles foram nossa base.
Daí para frente seguimos estudando as matérias gerais nas seguintes séries do ensino fundamental 1, Estudei todo o meu período da educação infantil às séries iniciais nesse mesmo colégio, que ficará para sempre em minha memória, cada professora, cada colega que por sinal eu gostava muito de ter, tive algumas que até hoje considero, cada funcionário, a direção, as disciplinas, português, matemática, geografia, artes e ciências, em cada série com sua intensidade e metodologia, eu me encantei pela educação, justamente quando comecei a conhecê-la e sou grata por hoje ter me encontrado com o curso de pedagogia, por ter a oportunidade de produzir minha carreira acadêmica tendo como parâmetro esses encantos que tive. Posso dizer que essa foi uma ótima fase da minha educação, da educação infantil ao ensino fundamental, muitos momentos dela ficaram gravados em minha memória e pretendo não esquecer.
Nem sempre tudo foi flores e isso é imaginável, mas as coisas mudam com o tempo e isso me tranquiliza, houve momentos na minha infância em que ter as coisas era difícil para os meus pais, mas eles foram muito fortes e é por eles que estou aqui hoje, na minha primeira graduação e é por eles que me formarei pedagoga/professora. Longe de mim (muito longe mesmo) desejar parecer estar fazendo discurso meritocrático, eu nunca faria isso, pois acredito que não existem méritos, mas sim privilégios para alguns, oportunidades para outros e sacrifícios muitas vezes até desumanos para outros e isso não deve ser louvado.
Durante época meu ensino fundamental passei também por algumas situações que não foram traçadas por mim, mas por máximas muito maiores do que eu na época: a sociedade racista e sua história que deixou marcas na nossa vida enquanto negros afrodescendentes. Não quero que pareça que essa situação ficou reduzida entre meus 7 a 12 anos, pois até hoje (20 anos) essas situações se mostram presentes, algumas de maneira diferente. Mas é necessário dizer como foi para mim enquanto criança negra, crescer em uma sociedade racista, não só para que repensemos nossos posicionamentos humanos e críticos, mas também aqui escrevo enquanto uma estudante de pedagogia que sabe que a educação é uma das instituições sociais que mais podem lutar contra o racismo, como também pode ser reprodutora da mesma e isso vai de acordo com a direção que damos a ela.
Indo direto ao ponto, eu passei por diversas situações quando criança, principalmente na escola que são caracterizadas como situações racistas e sei que não foi algo pessoal, pois os que são iguais a mim também passaram e passam por elas, por exemplo ouvir de meus colegas que eu não poderia ser bonita por que não era branca, porque meu cabelo não era liso, porque meus lábios não eram finos, porque meu nariz não tinha “ponta”. E não ouvi/ouvimos isso só de outras que ouviram isso de adultos, mas eu também via isso na televisão, via isso nas atividades, nos livros, nas histórias, nas propagandas e em outros campos. Só o que me restou enquanto criança foi questionar a Deus o porquê de não ter nascido branca. Enquanto escrevo isso aqui, imagino leitores pensando “nossa, para que escrever isso aqui? ”, “ela está querendo aparecer”, “quanto mimimi” ou coisas do tipo, porque são as coisas que ouvimos hoje quando denunciamos as situações racistas/preconceituosas/homofóbicas e entre outras que vivemos. Mas mais ainda do isso que relatei, quero relatar que eu LEVANTEI e levanto todos os dias a minha autoestima preta, dos meus 14 anos até hoje venho descobrindo o quanto é lindo ser negra/negro e quanto eu sou apaixonada pelo meu povo e pela minha ascendência.
Hoje eu faço parte da luta antirracista e do movimento negro, mas não pensem que agora sim são tudo flores, nem de longe passa ainda por coisas horríveis, ainda ouço coisas ruins, mas nada que me faça perguntar novamente aquilo que na minha infância perguntei a Deus, porque eu descobri a resposta sozinha, eu não nasci branca porque eu nasci para lutar pelos pretxs e pelos oprimidos assim como os meus antepassados lutaram, não nasci branca porque nascendo negra/preta/mulher/pobre/bissexual eu entendo o que é ser tudo isso e é entendendo, é sendo isso que eu sei do que precisamos e sei o que é nosso que devemos resgatar. Fui descobrindo aos poucos que minha cor é linda, meu nariz é lindo, minha boca é linda, meu cabelo CRESPO é lindo, meus traços são lindos.
O processo de transição de pensamento é foi difícil, porém libertador. Parece até uma analogia ao processo de transição capilar pelo qual também passei e durante o qual também ouvi coisas horríveis inclusive de pessoas da minha família “vai alisar esse cabelo de novo”, “abaixa esse cabelo horroroso” e coisas do tipo, coisas que doeram, mas que não me fizeram regredir, pois se tem uma coisa que eu herdei do povo negro foi a RESISTÊNCIA. Durante minha adolescência, passei por processos de conflitos internos (nada fora do imaginado), mas também fui muito feliz, namorei, dancei, ganhei um sobrinho lindo, ri, fui família, me diverti, amei, e agora aqui estou bem e cheia de sonhos.

Seguem fotos, a ilustração da palavra contada:


















4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Mais do que a correção de um memorial, uma oportunidade de adentrar na sua história de vida e de formação. Que força, que empoderamento. Parabéns pela sua narrativa. E a evolução de seu cabelo nas fotos? Simplesmente amei.

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  3. Que liindo.
    Grata, Pró !
    Que bom ler isso <3

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  4. Você é linda Lorena! Mulher forte e que nos inspira.

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