sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Fontes Pré-Profissionais


 
Meu memorial de uma parte de minha vida




                                   
                         Meu nome é Lorena Sousa Oliveira, eu nasci em 1999 no dia 24 do mês de fevereiro, na cidade de Ipiaú na Bahia. Eu sempre fui muito chorona, desde recém-nascida (e sou até hoje) dei muito trabalho para meus pais na hora de dormir, pois eu preferia dormir de dia e chorar à noite, antes de ingressar no curso de pedagogia eu não conseguia entender como essa fase pode dizer tanto sobre nosso procedimento futuro. Comecei a andar com apenas 8 meses, eu vivia caindo, tropeçar do nada era o meu forte, a primeira palavra que eu falei foi mamãe. Fui relativamente precoce nesses quesitos e isso essa precocidade se manteve na minha infância, de forma clara, até na 1° série do ensino fundamental 1, quando fui convidada a mudar de turma na escola, para uma mais avançada em que eu me encaixasse melhor. Já tinha uma irmã quando nasci, mas depois ganhei outro irmãozinho, éramos um trio muito divertido, eles contribuíram grandemente para que eu tivesse uma infância feliz.

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Fevereiro,1999                 Novembro, 1999                                  2004
Nascimento                        Primeira palavra                           Alfabetização


 Fui para a Escola Municipal Italva Myrtens Bittencourt, em Ipiaú, (começando pela pré-escola, que no meu caso foram duas séries, o “prézinho” e alfabetização) com 4 anos de idade, e nunca esqueci o meu primeiro dia de aula, me lembro que todos em minha sala choraram quando seus pais foram embora, menos eu, também me lembro muito bem da minha primeira professora, tia Vera, eu gostava muito dela. No prézinho nós aprendíamos cantigas, brincadeiras e me lembro de aprender algumas letras, eu adorava a hora do lanchinho, não me esqueço, nós pegávamos nossa lancheira que trazíamos de casa, cantávamos a música comer, comer e comíamos. As cantigas marcaram muito minha educação infantil, eu as lembro até hoje e quando canto consigo sentir novamente como era os momentos em que eu, criança, as aprendia na escola. Com isso eu pude ver o quanto a memória é importante e deve cada vez mais ser estudada pela pedagogia. Cada palavra, melodia, dança e dinâmica das músicas se mostravam muito interessante para mim, eu sempre gostei muito de arte, sou grata por ter tido oportunidade nessa escola de manifestar e usar minha criatividade nela.

                                         
                                         

A alfabetização, em questão lúdica, não foi muito diferente, porém nela nós já começávamos a aprender a ler, escrever e contar com a pró Agenólia, também muito querida por mim. A variedade de práticas desenvolvidas por essa professora, foi algo que muito me encantou, relembrar isso foi muito importante para mim pois, pude perceber o quanto eu quero poder trabalhar dessa forma, com essa variedade, a ludicidade sempre me encantou, o ato de levar às crianças coisas novas sempre, coisas que lhes encantem, instiguem sua criatividade, lhes mostrem como o mundo é vasto e pode ser mais e mais bonito se soubermos interferir nele com determinação e dedicação. Todos esses encantos que a professora nos apresentava só fazia com que cada vez mais nos apaixonássemos por seus ensinamentos e consequentemente por ela, eu também quero poder sentir esse amor um dia, esse amor de uma criança não só por mim como, consequentemente, por meus ensinamentos.
Quando a professora nos apresentou a proposta de escrever diário, eu me recordei dos portfólios que eram produzidos por algumas das minhas professoras nos meus primeiros anos na escola, eles eram recheados com as atividades que nós produzíamos durante todo o ano e que a professora guardava com todo cuidado, escrevia suas observações em cada uma delas e nos entregava no final do ano letivo, no dia da festinha de encerramento.
Esse portfólio igualmente ao que produzimos agora, já no ensino superior nos preparando para sermos também professores, nos fazia relembrar e refletir sobre cada passo que demos anteriormente e como tudo aconteceu para que chegássemos até ali, mesmo ainda sendo crianças a auto-observação mexia com a gente, e ainda mexe muito comigo, eu sempre olhava cada atividade por mais simples que fosse procurando algo se destacava nela, parecia estar procurando algo de me caracterizasse, parecia procurar a mim mesma naquelas atividades, parecia querer entender minha identidade e me conhecer como pessoa na minha individualidade, hoje sei o quanto isso é importante e necessário para um processo de formação seja ele infantil ou docente, pois cada ser tem sua individualidade e ela deve ser entendida para que seja melhor trabalhada e melhor aproveitada.
                                             
                                        


Depois disso, com 6 anos, fui para a 1ª série do ensino fundamental 1, e eu me recordo que eu já sabia ler e escrever bem, gostava muito de leitura, interpretação de textos e desenhos, poder desenhar sobre a história que acabava de ser contada, ou lida, para mim era um privilégio e para minha alegria a professora dessa série, Helena Selma, trabalhava muito com isso, histórias e contos, não só nos proporcionava ler como também escrever sobre elas e criar histórias nossas. Na primeira série o que se destacou para mim foi o “Era uma vez”, que nós trabalhamos bastante, e eu amei, os jogos em sala, desenhos, música, interpretação, entre outras coisas.
Os anos seguintes continuaram com esse mesmo estilo pedagógico, mas claro, sempre se adequando a cada nova série, e idades e conteúdo. Minha mãe me ajudava muito em casa com as atividades escolares e além delas, ela ainda reforçava meus estudos, me colocando para fazer cópias e estudar tabuada. A presença dela na minha educação foi essencial, o cuidado e o interesse dela para com o meu aprendizado me tocava muito, eu tinha aquilo como um incentivo, meu desejo era voltar para casa sempre com elogios e bons resultados para que pudesse mostrar  a ela e vê-la feliz, assim como também ao meu pai, que mesmo passando o dia todo trabalhando longe, quando chegava e casa procurava tempo para nos ouvir e aconselhar sempre, o sorriso dele também me inspirava e inspira até hoje , esses dois, minha mãe e meu pai tiveram papeis importantíssimos na minha educação, muito eu e meus irmãos devemos a eles, nós não poderíamos ter tido melhor apoio, eles foram nossa base.
Daí para frente seguimos estudando as matérias gerais nas seguintes séries do ensino fundamental 1, Estudei todo o meu período da educação infantil às séries iniciais nesse mesmo colégio, que ficará para sempre em minha memória, cada professora, cada colega que por sinal eu gostava muito de ter, tive algumas que até hoje considero, cada funcionário, a direção, as disciplinas, português, matemática, geografia, artes e ciências, em cada série com sua intensidade e metodologia, eu me encantei pela educação, justamente quando comecei a conhecê-la e sou grata por hoje ter me encontrado com o curso de pedagogia, por ter a oportunidade de produzir minha carreira acadêmica tendo como parâmetro esses encantos que tive. Posso dizer que essa foi uma ótima fase da minha educação, da educação infantil ao ensino fundamental, muitos momentos dela ficaram gravados em minha memória e pretendo não esquecer.
Nem sempre tudo foi flores e isso é imaginável, mas as coisas mudam com o tempo e isso me tranquiliza, houve momentos na minha infância em que ter as coisas era difícil para os meus pais, mas eles foram muito fortes e é por eles que estou aqui hoje, na minha primeira graduação e é por eles que me formarei pedagoga/professora. Longe de mim (muito longe mesmo) desejar parecer estar fazendo discurso meritocrático, eu nunca faria isso, pois acredito que não existem méritos, mas sim privilégios para alguns, oportunidades para outros e sacrifícios muitas vezes até desumanos para outros e isso não deve ser louvado.
Durante época meu ensino fundamental passei também por algumas situações que não foram traçadas por mim, mas por máximas muito maiores do que eu na época: a sociedade racista e sua história que deixou marcas na nossa vida enquanto negros afrodescendentes. Não quero que pareça que essa situação ficou reduzida entre meus 7 a 12 anos, pois até hoje (20 anos) essas situações se mostram presentes, algumas de maneira diferente. Mas é necessário dizer como foi para mim enquanto criança negra, crescer em uma sociedade racista, não só para que repensemos nossos posicionamentos humanos e críticos, mas também aqui escrevo enquanto uma estudante de pedagogia que sabe que a educação é uma das instituições sociais que mais podem lutar contra o racismo, como também pode ser reprodutora da mesma e isso vai de acordo com a direção que damos a ela.
Indo direto ao ponto, eu passei por diversas situações quando criança, principalmente na escola que são caracterizadas como situações racistas e sei que não foi algo pessoal, pois os que são iguais a mim também passaram e passam por elas, por exemplo ouvir de meus colegas que eu não poderia ser bonita por que não era branca, porque meu cabelo não era liso, porque meus lábios não eram finos, porque meu nariz não tinha “ponta”. E não ouvi/ouvimos isso só de outras que ouviram isso de adultos, mas eu também via isso na televisão, via isso nas atividades, nos livros, nas histórias, nas propagandas e em outros campos. Só o que me restou enquanto criança foi questionar a Deus o porquê de não ter nascido branca. Enquanto escrevo isso aqui, imagino leitores pensando “nossa, para que escrever isso aqui? ”, “ela está querendo aparecer”, “quanto mimimi” ou coisas do tipo, porque são as coisas que ouvimos hoje quando denunciamos as situações racistas/preconceituosas/homofóbicas e entre outras que vivemos. Mas mais ainda do isso que relatei, quero relatar que eu LEVANTEI e levanto todos os dias a minha autoestima preta, dos meus 14 anos até hoje venho descobrindo o quanto é lindo ser negra/negro e quanto eu sou apaixonada pelo meu povo e pela minha ascendência.
Hoje eu faço parte da luta antirracista e do movimento negro, mas não pensem que agora sim são tudo flores, nem de longe passa ainda por coisas horríveis, ainda ouço coisas ruins, mas nada que me faça perguntar novamente aquilo que na minha infância perguntei a Deus, porque eu descobri a resposta sozinha, eu não nasci branca porque eu nasci para lutar pelos pretxs e pelos oprimidos assim como os meus antepassados lutaram, não nasci branca porque nascendo negra/preta/mulher/pobre/bissexual eu entendo o que é ser tudo isso e é entendendo, é sendo isso que eu sei do que precisamos e sei o que é nosso que devemos resgatar. Fui descobrindo aos poucos que minha cor é linda, meu nariz é lindo, minha boca é linda, meu cabelo CRESPO é lindo, meus traços são lindos.
O processo de transição de pensamento é foi difícil, porém libertador. Parece até uma analogia ao processo de transição capilar pelo qual também passei e durante o qual também ouvi coisas horríveis inclusive de pessoas da minha família “vai alisar esse cabelo de novo”, “abaixa esse cabelo horroroso” e coisas do tipo, coisas que doeram, mas que não me fizeram regredir, pois se tem uma coisa que eu herdei do povo negro foi a RESISTÊNCIA. Durante minha adolescência, passei por processos de conflitos internos (nada fora do imaginado), mas também fui muito feliz, namorei, dancei, ganhei um sobrinho lindo, ri, fui família, me diverti, amei, e agora aqui estou bem e cheia de sonhos.

Seguem fotos, a ilustração da palavra contada:


















Memórias de Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental


Memórias de Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental



Para começar bem do início mesmo gostaria de falar sobre as aulas de estágio, me surpreendi quando percebi que as aulas seriam dadas pelas 3 professoras, Nandyara, Rosângela e Socorro. Nunca tinha acontecido, seriamos regidos por 3 professoras ao mesmo tempo. Sabe aquele medo? Senti. Mas depois foi passando, fomos entendendo o que elas pensavam de estágio e o que nós estávamos pensando, fomos pesquisando o significado, o conceito e a arte da pesquisa qualitativa e agora aqui estamos. 
Estamos na terceira semana de estágio e eu e minha dupla já estamos em um misto de alívio e pressão. Mas nada comparado a primeira semana de regência, que semana, não que a segunda também não tenha sido difícil, mas digamos que eu já tinha entrado no ritmo da coisa, "dançando conforme a música".
 Nesse momento aqui escrevendo me lembro do estágio anterior, o estágio em educação infantil, que no relatório (na parte do memorial individual) eu desabafava, a mesma queixa que penso em deixar aqui agora. A naturalização de salas com uma grande quantidade de crianças, dá um artigo. Pois é, percebi isso agora também e vou escrevê-lo. Gente é um absurdo como nós passamos tanto tempo sobrevivendo a educação nessa situação, é contraditório tentar fazer educação desse jeito, nós funcionários docentes e não docentes nos cansamos de uma forma totalmente longe do saudável e as crianças/os adolescentes também. 
Já tive oportunidade de conversar com diversas professoras que desabafaram comigo sobre como se sentem diante dessa situação, não é fácil. Eu acredito muito que a educação só acontece de verdade quando existe o prazer na aprendizagem e no ensino. Mas como existir prazer nessas situações em que o tempo todo nós docentes e os discentes também só podem pedir que o tempo passe para que possamos ir embora da escola? Isso não pode ser naturalizado, ainda mais naturalizado. Todo cidadão tem direito de lutar por seus direitos e nós enquanto pedagogas e pedagogos temos o direito de lutar pela nossa profissão e pela transformação do que está posto historicamente a ela.
 Disse no outro relatório e direi aqui também, vou em busca da oportunidade de mudar isso, porque conheço meus direitos e os direitos das crianças, elas precisam de uma aprendizagem garantida e que seja prazerosa o que é quase impossível dentro dessas condições de salas cheias observada nas escolas. Precisamos de mais escolas e mais funcionários docentes e não docentes, precisamos de emprego, espaço, vagas para estudo e trabalho. Não precisamos de cursos prepatórios de gestão da classe sobre como sobreviver a condições precárias dentro de uma sala de aula, como "matar até 3 leões por dia", como ensinar a qualquer custo. Não precisamos disso. 
Precisamos ter condições saudáveis para construir conhecimentos junto aos educandos sem precisar sentir remorso ao final do expediente por não ter tratado com gentileza a quem tanto precisa da gente por não ter escolha, "ou é isso ou é nada". Não, nós temos escolha sim e se depender de mim isso não fica assim. Sobreviver a vida inteira para que outros passam viver em abundância? Não, eu quero vida em abundância para todos. 
 "A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte". Eu sempre entendi essa frase, mas nunca entendi tão bem como estou entendo agora.
 Você leitores devem estar pensando, "Meu Deus, o que foi que aconteceu no estágio dessa menina?". Nada de diferente, esse desabafo posto acima é só uma descrição do que acontece todos os dias nas escolas.
 Esse foi o principal marco do estágio até aqui. E então vocês devem estar se perguntando e o que mantém ela ainda no estágio?
O que me mantém é o desejo das crianças pelo aprendizado, isso é o meu combustível. Eu precisava me apegar em algo para me manter nesse estágio não só na forma física para passar na disciplina e poder pegar meu diploma, mas também na forma d’alma. E o que me sustentou ali foi ver as a carinha de felicidade de Riana ao ver que estava aprendendo a escrever e o carinho dela por mim ao achar que devia isso a mim, foi ver a expressão de Julio ao olhar para a minha boca tentando observar o movimento que eu faria com ela para que ele soubesse qual silaba eu estava pronunciando, foi ler as frases e desenhos escritos pelas crianças quando pedimos que escrevessem sobre o que é ser família. Foi o sorriso de Gideão ao conseguir concluir uma atividade. Foi vê-los fazendo uma coreografia sem nenhuma técnica, mas linda pela simplicidade e verdade passada. 
Pois é, aqui estamos na terceira semana e até aqui esses fatos nos sustentaram. 
A primeira semana foi de preocupação, rouquidão, estresse, correria e surpresa, além de adaptação às novas situações vivenciadas, como aplicar um método de alfabetização por exemplo. Mas também teve risos e trocas de afetos.
Na segunda semana já observamos mudanças na aprendizagem das crianças, mesmo que com as mesmas condições de gestão da classe, mesmo com bronca o tempo todo. A segunda semana até agora foi a que mais gostei, foi durante ela que entendi o motivo de estar ali, eu precisava sentir que o meu trabalho produzia bons frutos na vida daquelas crianças.
Hoje é terça, segundo dia da terceira e última semana e ontem a "turbulência" foi a mesma das outras semanas, essa questão não mudou, por mais que tenhamos tentado e a resposta está no que expus mais acima, a solução não é o esforço do professor, mas sim a mudança nas condições precárias da educação escolar brasileira. Mas ontem também vimos que muitos deles evoluirão no aprendizado, estamos felizes por isso e também porque falta pouco para acabar, sendo sincera. Por que nos tempos em que vivemos não cabe fazer cerimônia ou enfeitar as situações. Como diz a professora Nandyara: "ultimamente estou assim, na base do sincericídio".

Segue um print de uma postagem minha no Instagram sobre o processo de estágio que estou vivendo :




Retorno agora, na madrugada de Quarta-feira, 13 de novembro. Ao som do choro da minha cadela que sofre de Leishmaniose. Para diminuir o meu foco no choro dela venho aqui escrever sobre o estágio. A madrugada é silenciosa e infelizmente nos deixa ter foco total em coisas que fazem barulho, como o sofrimento sem saída de Lua agora.
Sabe, caro leitor, acredito que isso também deveria se aplicar a outras questões/ outros momentos da vida de uma forma boa, como no estágio por exemplo, a vida deveria parar em relação as outras coisas que temos para fazer, para viver, para chorar, para dar atenção, e etc, quando estivéssemos em uma fase que pedisse tanto de nós como no estágio do nosso curso de graduação.
 Mas ela não para, não podemos nos dedicar exclusivamente ao estágio, temos que nos virar para resolver o todo, a todo momento, menos na madrugada, na madrugada, na maioria das vezes se você tiver um problema, ele fará mais barulho até mesmo do que o seu cansaço e assim se torna exclusivo.
Mas eu sei que vai passar, nada é para sempre, nem as dores, até a vida é um estágio, não é mesmo?
E mesmo que por vezes dolorosa, eu desejo que ela seja longa, para que possamos aproveitar as partes boas e aprender com as ruins, já que elas são inevitáveis. Tem sido assim na vida e no estágio também, o tempo todo na regência estamos vivendo momentos bons e ruins, talvez o dobro de ruins, mas é isso.
A terça feira foi forte, viu? As vinte e uma crianças de hoje pegaram pesado com a gente, para não dizer que eles não pararam para nos ouvir coletivamente, nos ouviram duas vezes, por um minuto em cada vez. Mas eu tenho orgulho de nós, porque somos guerreiras, cheguei em casa com dor de cabeça, mas nós dissemos tudo o que tínhamos para dizer, tentamos passar tudo o que tínhamos a passar, aprendemos tudo o que tínhamos para aprender e voltaremos hoje, nessa quarta-feira, para continuar. Falta pouco, graças a Deus !
Eu já iria concluir, mas outra questão falou alto na minha cabeça, já ouvi de mim mesma e de outras pessoas, inclusive hoje da cuidadora de um educando da sala que sala de aula não é para mim. Eu não sei o que pensar quanto a isso, as vezes me acho incompetente para estar em sala de aula com crianças, as vezes me acho desesperada e infantil, sem controle da turma, mas sinceramente, não acho que o problema disso tudo esteja em mim, acredito que o problema seja o cenário que expus lá no início desse diário. Aqui para nós, leitor, esse é o melhor relatório que já escrevi, o mais sincero, o mais real, não precisei "encher linguiça" e nem enfeitá-lo com palavras desvinculadas da realidade, estou simplesmente relatando de verdade.
Acho que ainda não disse a vocês que também estou muito orgulhosa de mim por ter escrito vários textos (muitos bons, modéstia à parte) para esse estágio e as crianças gostaram, tanto que custaram a acreditar que eram meus. Toda vez que perguntava de quem eles achavam que era, eles respondiam: "Ruth Rocha" ou nomes do tipo e aí eu lhes corrigia dizendo que eu era a autora e a carinha de surpresa e admiração deles me deixava flutuando, uma coisa linda.
Bom, vou deixar um dos textos aqui.
Segue:
O que é ser família?

Como se faz uma família? Será que dá para fabricar? 
Uma família bem grande ou bem pequena, será que eu posso montar? A minha própria família, será que eu posso imaginar? Uma família que seja perfeita para mim como as árvores são para o ar, ou como as ondas são para o mar, ou como o ímpar é para o par? Será que eu posso consertar qualquer errinho, qualquer ofensa, qualquer problema, qualquer dilema, na minha família de nascença?

Tem pessoas que nascem em sua família correta, tem pessoas que vão para um lar que o outro entrega, para ser o seu lugar e ter alguém para cuidar.
Uma família não se escolhe, é verdade, posso falar, família se encontra sem saber em qual lugar, esse encontro acontece em alguma fase da vida, pode ser criança ou pode ser adulto, acredite, é possível que pessoa não tenha encontrado ainda.

Porque família é proteção, amor, carinho e compaixão, pode ser uma pessoa, duas, três ou mais de mil, pode ser um amigo, a vovó, o vovô ou o titio, pode ser a titia, a amiga, ou a mamãe, pode ser o seu gatinho, o cachorrinho ou irmãozinho, pode ser tudo isso junto, em um lar pequenininho e pode ser uma família   com duas mamães ou dois painhos. 
Pode estar um pouco longe ou do lado, bem pertinho.
Nossa família é quem faz nosso coração ficar quentinho.
Família não é quem maltrata e nem quem quer nos machucar 

Agora que entendemos um conselho eu vou te dar: 
Imagina ser família de alguém que precisar, para isso basta somente você amar, respeitar e cuidar das pessoas que também precisam ter um lar.


Espero que tenham gostado, minha cachorra está mais calma, vou tentar dormir um pouco, volto logo mais. :*


E eu disse que voltava logo, hoje já é sábado e foi agora que voltei, não tive condições emocionais de vir escrever aqui na quarta e nem tempo na quinta, na sexta eu descansei. Então vamos lá, no diário das fontes pré-profissionais eu expus um pouco sobre minha relação com a negritude e os problemas de racismo aos quais estamos expostos.
Não tem sido fácil, esse ano e especialmente nos últimos meses, ouvi muita coisa triste e racista as vezes ditas para mim, de mim, do outro ou para o outro. Mas essa quarta-feira no estágio me magoou demais. Resolvi, quando escrevi meu plano de aula dessa semana, trabalhar a história do povo afro-brasileiro, os processos vividos de escravidão e violência de diversos tipos, a vida real (no sentido de realeza que meu povo de África tinha antes de ser trazido para o Brasil a força) e o racismo, entre outras coisas. Imaginei uma aula massa, mas minhas expectativas nem de longe foram sustentadas, as vezes sou muito inocente. Eu sei da realidade, mas dificilmente eu espero encontrá-la.

Levei um cordel sobre a Princesa Aqualtune e sua família Real que foi escravizada no Brasil, foi infinitamente abusada pela escravidão, liderou e fortaleceu o quilombo de Palmares, foi a avó de Zumbi e mãe de Ganga Zumba, guerreira e entre outras grandes questões. Levei tudo isso de modo adaptado a idade e linguagem das crianças com ajuda da leitura do cordel que transformei em contação de história.
Mas todo preparo ainda é pouco diante das marcas do racismo na sociedade.

Enquanto eu mostrava para eles as primeiras imagens dos personagens negros na história, as crianças reagiam com palavras exatamente assim: "an an an que feio", "esses pretos são feios viu, Pró?", "Deus é maais", "que feiaa"... Entre outras duras palavras, na minha cabeça um turbilhão de pensamentos: "O que será que está passando na cabeça das outras profissionais presentes na sala? tenho medo de que não entendam a situação que estou passando agora". "Meu Deus eu preciso desconstruir esses pensamentos dessas crianças". "Eu não acredito que eles estão dizendo essas coisas". "Quero sair daqui chorando, mas tenho que concluir a contação da história".

Foi desesperador ! Mas por mais incrível que pareça eu consegui concluir fingindo plenitude, só fingindo mesmo porque eu estava arrasada, cada palavra daquela que saia da boca das crianças era como se estivessem me batendo forte. Não vou diminuir as palavras aqui para ser mais confortável para o leitor até porque racismo nunca será confortável para quem sofre com ele. Mas sabem de uma coisa? Que bom que pude ver mais uma vez o quanto é forte o processo de racismo, é triste, mas assim eu nunca vou esquecer e nunca vou deixar de lutar contra ele e minha principal arma será a educação SIM. Sabendo que vou incomodar inúmeros educadores, mas eu estou aqui para isso, meu povo nasceu para isso, para incomodar !

E não pensem que eu parei na contação, tinha preparado o conto de uma reportagem real de um caso de racismo sofrido por uma criança. Depois de eu ter conversado com eles sobre as falas tristes que ouvi, a situação ficou menos difícil, eles repensaram algumas coisas. E aí quando eu falei sobre a reportagem eles se mostraram comovidos e discutiram comigo sobre as boas e ruins atitudes observadas no caso.

Na quinta eu levei 3 vídeos para eles assistirem e com muita dificuldade eles ficaram quietos para assistir, foi preciso muita bronca para isso. Um vídeo foi sobre inclusão, um episódio de um desenho animado "Milly e Molly" com uma personagem cega (criança) o outro foi a contação de história sobre as bonecas Abayomi, bonecas feitas de nó em tecidos pelas mães negras escravizadas para que suas filhas conseguissem sobreviver a tristeza de navio negreiro ( a linguagem da história é bem mais leve).
O outro vídeo foi da contação da história "Menina bonita do laço de fita" que alguns já conheciam. Os resultados adquiridos com os vídeos também foram positivos. Além de trabalhar essas temáticas, na quarta e na quinta, ensaiamos bastante para a culminância do estágio, que será segunda- feira.
Outras grandes dores de cabeça foram as que adquirimos durante os ensaios, vontade de simplesmente ir embora da escola, as crianças estavam literalmente fazendo "pouco caso" de nós, nossa voz já não bastava. Mas ensaiamos, já vi que esse diário está cheio de "mas" e com isso eu me lembro de uma frase que a minha amada tem repetido muitas vezes ultimamente para mim, "o corpo cansado resiste" porque ele não pode parar. Não acuso somente o estágio pela crise que tive na quarta e na quinta feira, a minha existência é permeada por muitas outras questões. Mas aqui estou, não sei se firme, mas com certeza resistente. O estágio está acabando só falta mais um dia e fim. Que bom que aprendi !


Memórias do Estágio em Educação Infantil

Relatório de estágio (parte)

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA UESB CAMPUS DE JEQUIÉ DEPARTAMENT...